Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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Entrevistadoras
: E eles, então, trabalharam desde cedo também ou não?
— L.F.F.:
Não. É, porque depois casou né.
Entrevistadoras
: Você já é avó?
— L.F.F.:
Sou. Tenho oito netos. A mais velha está com quatorze anos, e a mais nova está
com um ano e oito meses.
Entrevistadoras
: Então, da sua família, a única pessoa que trabalha aqui na Cooperativa
é você?
— L.F.F.:
É. Sou eu.
Entrevistadoras
: Você já teve algum problema de saúde, ou não?
— L.F.F.:
Não, não. Problema de saúde, não. Já tive pressão alta, né. Já fiquei nervosa.
Então, já tomei calmante, né. Mas aí eu resolvi parar, eu mesma. Era muito nervoso que
eu passava. O pai das meninas também bebia. Foi difícil.
Entrevistadoras
: Vocês se separaram?
— L.F.F.:
É, separei. Estava fazendo vinte anos de casada e eu resolvi me separar porque
as crianças estavam grandinhas, né. Daí eu falei: “— Ah não, chega dessa vida”. E eu
sempre trabalhei.
Entrevistadoras
: E, hoje em dia, a casa que você mora com a sua filha é casa própria?
— L.F.F.:
Eu morava pagando aluguel. Morei um bom tempo com a minha mãe também no
quintal da minha mãe, em dois cômodos, parede e meia com ela. Aí saí e fui pagar aluguel,
né. E aí agora eu ganhei a casinha né, ali. Então, agora eu estou ali. Pago cinquenta reais
por mês, né. Pagava cento e cinquenta de aluguel. Então, eu estou ali. Acho que deve ter
uns cinco meses que estou ali.
Entrevistadoras
: E aí você conheceu a Cooperativa como?
— L.F.F.:
Eu via as meninas na rua empurrando o carrinho, né. E aí um dia eu conversando
com ela, né, ela falou: “Ah, vai lá, né. Faz uma ficha lá, né”. Aí, peguei e vim.
Entrevistadoras
: Na época você estava sem trabalhar?
— L.F.F.:
Eu estava desempregada, né. Fiquei um ano desempregada. Antes eu estava
cuidando de uma senhora, né. Mas aí ela faleceu e eu fiquei desempregada. Então, aí eu
vim, fiz a ficha, e uns quinze dias eles chamaram eu. Aí, eu estou até hoje, né.
Entrevistadoras
: Mas quando você veio, tinha intenção de ficar aqui? Era só temporário?
— L.F.F.:
Não, eu precisava trabalhar. Eu falei “Bom, eu já enfrentei tanto serviço né,
então eu vou, né...”, que eu já sabia mais ou menos como era o assunto. Antes, eu estava
catando, assim, com o meu irmão, mas de bicicleta, assim né... De noite, assim, né. Mas,
eu vi que não dava nada. Parei também. Mas, no começo eu desanimei. Mas falei “Não,
eu tenho que ficar porque a gente precisa, né”. Aí eu fiquei.
Entrevistadoras
: E foi mais por um motivo de dinheiro mesmo?
Desconhecido:
De necessidade.
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