Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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com minha irmã, teria que ajudar ela, com duas crianças ainda. [Minha amiga] foi lá em
casa e falou para mim: “Creuza amanhã eu vou à Cooperativa fazer uma ficha, para vê se
eu consigo entrar lá. Vamos comigo?” Aí eu vim com ela, mas eu vim só de companhia com
ela. Porque eu não me via trabalhando aqui.
Entrevistadoras
: Você já conhecia a Cooperativa ou escutava falar?
— C.S.C.
: Não, não conhecia.
Entrevistadoras
: Ela já tinha escutado falar?
— C.S.C.
: A gente só sabia no início das reuniões que tinham no barracão, quando iniciou.
Até tinha uma amiga minha, lá do Jardim Eldorado que sempre falava pra mim. Na época eu
morava com o pai das minhas filhas. Ela falava pra mim assim: “Creuza vai lá no barracão,
aí você arruma um serviço lá na Cooperativa”. Só que eu não sabia que ela tinha mudado
para cá, para usina. E, na época, a Sandra era a diretora da Cooperativa, e eu conhecia a
Sandra fazia muito tempo, que ela morava perto da casa da minha mãe. Aí ela falou você
não quer deixar seu nome. Eu falei: “Eu deixo meu nome”. Aí, no mesmo dia (nós viemos
na parte da manhã), à tarde, ela me ligou que era para comparecermos aqui no outro dia,
se a gente quisesse trabalhar. Aí, eu com a Noêmia a gente até brincava. Eu falava assim:
“Aí Noêmia, empurrar carrinho na rua, catar material reciclável na rua, Noêmia”. Só que eu
não imaginava que era esse processo todo, que o pessoal ia para a rua, uniformizado e
batia de porta em porta e que tinha aquele respeito da população; eu não imaginava isso.
Eu falei: “Noêmia, seja que Deus quiser, vamos”. Quando foi no outro dia a gente chegou
aqui tinha trinta e duas pessoas. Eu comecei em junho de 2006. Aí, eu cheguei aqui eles
me deram um jaleco e um para ela, eu falei: “Vamos, vamos”. A gente sempre tinha um
dilema, assim, a gente não pode esquecer que a gente tá precisando (rs), aí nós fomos. Aí,
quando eu cheguei lá, eu fui trabalhar com a dona Sônia. A dona Sônia é catadora que está
aqui desde o início da Cooperativa. Eu fui trabalhar com ela, isso foi terça-feira. Quando
eu cheguei lá, que eu vi que não era nada daquilo que estava imaginando [que era] para
empurrar o carrinho na rua, pegar reciclável na rua. Eu imaginava, assim, que eu ia catar
aquele carrinho, sair na rua, ia abrir saco de lixo, ia pegar o reciclável e jogar dentro do
carrinho. Quando eu cheguei lá que eu vi que o processo era completamente diferente
(para mim, catadora o povo sempre taxa de vagabundo, de lixo, eu tinha essa noção de
lixeiro) eu me surpreendi. Eu vi que não era nada daquilo que eu estava pensando. Dali em
diante, quando eu participei da primeira reunião que foi em Ourinhos que era a reunião do
Comitê Oeste Paulista, aí é que eu fui entender realmente o que era Cooperativa. Daí eu
realmente cai em si, que eu estava fazendo um trabalho digno, que eu estava prestando
praticamente um favor para a população, que eu não estava fazendo nenhuma coisa feia,
que eu imaginava, a gente tinha todo aquele respeito da população, de bater na porta, a
pessoa chamar a gente para dentro, dá um café, essas coisas não existe. Qualquer catador
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