Zélia Lopes da Silva (Org.)
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Entrevistadoras
: De necessidade?
— L.F.F.:
Quando eu entrei era bem pouco o salário. Era pouquinho de tudo mesmo.
Parece que o primeiro mês foi setenta reais na época. Tem até o holerite lá em casa, né. Aí
eu falei “Ah, será que eu vou ficar?”, mas aí eu falei “Não, vai melhorar”, né. E melhorou,
né.
Entrevistadoras
: E você entrou fazendo a coleta?
— L.F.F.:
Eu entrei fazendo a coleta, né. Só que ajudei no lixo, né. Passar o lixo igual agora
né, nós estamos ajudando, né. Tinha o lixo que nós tínhamos que passar também, né. Mas
aí eu entrei para coleta na rua.
Entrevistadoras
: E hoje você faz o que aqui na Cooperativa? Faz qual função?
— L.F.F.:
Ah, hoje a gente faz tudo, né. De tudo a gente faz um pouco, né. Se precisar
chama, vai ali, a gente vai, né.
Entrevistadoras
: Faz a coleta, ajuda na esteira?
— L.F.F.:
Faz a coleta também. Ajuda na esteira, amarra os jornais, quando precisa, né.
Ah, a gente faz tudo, né.
Entrevistadoras
: Você pensava alguma coisa da atividade de catação? Achava que era
um trabalho valorizado ou não?
— L.F.F.:
Ah, é um trabalho valorizado porque é uma coisa assim, né, que você faz aquilo
que tem que fazer, não é mesmo? Então, a gente tem que ter valor, né, porque a gente faz
um serviço que não é fácil. A gente tem que ser valorizado.
Entrevistadoras
: Tem a questão do meio-ambiente também.
Desconhecido:
Os catadores precisam ser mais valorizados, e mais remunerados.
Desconhecido:
Porque é muito sacrificado.
— L.F.F.:
Sacrificado é, mesmo.
Desconhecido:
Porque não tem um horário específico para você sair. Só tem de entrar,
né. E o horário de almoço também da gente está muito ruim, muito ruim. Então, você
sobrecarrega, tem cansaço. Nossa, tem dia que chego em casa não tenho coragem nem
para jantar. Só tomar banho porque também não dá para dormir sujo.
— L.F.F.:
É cansativo, né.
Entrevistadoras
: Você acha que a Cooperativa trouxe algum benefício financeiro para
sua vida? Você conseguiu ter alguma coisa através desse trabalho aqui na Cooperativa
ou não?
Desconhecido:
O que você ganha deu para você progredir, por exemplo, comprar um
carro, uma casa, uma coisa assim, do seu sonho, uma coisa que você queria...
— L.F.F.:
Não. Ainda, né...
Desconhecido:
É, porque o sonho mesmo meu verdadeiro era estudar. Porque vou falar
para você, o que eu tenho uma inveja assim de ver o povo estudando, tendo uma profissão
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