Zélia Lopes da Silva (Org.)
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autônomo aí na rua não existe isso. Agora, você chega lá com uniforme da Cooperativa,
bonitinho, o pessoal te respeita. Então, a partir dessa primeira reunião eu aprendi a gostar
do que eu fazia. Nunca fui catadora, nunca catei na rua, e hoje eu posso dizer para você
que eu sou uma catadora, que agente não nasce catadora, a gente é catadora a partir do
momento que esta cumprindo a função de catadora, e hoje posso afirmar para você que
eu sou uma catadora, e gosto do que eu faço, e com orgulho. Às vezes, você vai passar
pelo médico (aconteceu comigo no médico), na Santa Casa, para fazer a fichinha lá, na
hora de pegar o prontuário a moça perguntar assim: “— Você trabalha aonde? Eu trabalho
na Cooperativa. Aonde fica? Bom, a sede fica lá na Maré de Vitor, mas, atualmente, a
gente está trabalhando lá na Usina de Reciclagem. — Então é serviço geral? — Não (rs),
é catador de material reciclável”. Não cai a ficha da pessoa. Para ela não existe essa
profissão. Aí, falo: “—Moça, eu sou catadora de materiais reciclável, pode escrever aí. Que
hoje não é uma profissão, mas é uma ocupação, então, pode colocar aí”. Qualquer lugar
que você chega, hoje, você fala e o pessoal já vai escrever. Mas foi difícil eles entender que
catador de material reciclável é uma ocupação.
Entrevistadoras
: Como foi, Creuza, esse processo de você ter começado aqui na
Cooperativa, na coleta e ter chegado, hoje, à diretoria e ser a primeira secretária?
— C.S.C.
: Então, foi um processo de construção do espaço da gente. Eu cheguei aqui em
2006, fui para rua, para a coleta seletiva. Na época, a coordenadora era a Maria Galdino e
Dona Cida, as duas faziam parte na diretoria. Aí, em 2007, quando a gente firmou convênio
com a Prefeitura e começou a triar o lixo, a gente teve que chamar para dentro do quarto
da Cooperativa mais 40 pessoas, que na época era 32. Tinha que chamar mais 40 pessoas
para fazer a triagem do lixo. Todas as sexta e sábado a gente fazia um teste com esse
pessoal. Eles vinham, faziam a ficha na quinta-feira, a gente conversava e se reunia ali na
escolinha; eles faziam o teste sexta e sábado. Aí, a gente ia vendo quem pegou o jeito, para
começar na segunda. E, para fazer essa avaliação, ficou da coleta seletiva: eu e Sandra
que fazia parte da diretoria, que era a primeira secretária, a outra Sandra que trabalhava
na coleta seletiva e a Raquel Mangueira que trabalha na coleta, também. Então, a gente
teve que ficar na esteira para ensinar o pessoal que estava chegando. Aí, através disso eu
passei a coordenar a esteira, eu era coordenadora da esteira, eu e a Sandra, começamos
a coordenar a esteira. Na época de coordenação veio junto comigo a Noêmia e a Solange
que também ajudavam na coordenação. Então, de trabalhar de coordenadora, passar a
primeira secretária diretora, foi aquilo que eu te falei no início. É aprender a gostar do
que você faz aqui na Cooperativa, dá andamento ao trabalho e ter um bom diálogo com
os operadores. Eu acho que foi através disso daí que eu me tornei primeira secretaria
diretora, porque tudo vai da iniciativa da pessoa. Se eu entrasse aqui na Cooperativa e eu
fizesse corpo mole, em tudo que eu estava fazendo, os próprios coordenadores que estão
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