Zélia Lopes da Silva (Org.)
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meus irmãos eram muito machistas, entendeu? Então, depois que meu pai faleceu é claro,
eles viraram tudo machão, né? Então, ele espancava muito a mulher e eu não aceito isso
contra mulher na minha família, apesar de ser mulher. Então, por isso mesmo que eu não
quero isso para minha vida, prefiro viver sozinha. Eu escolhi uma opção de vida. Então, eu
sou lésbica, com muito prazer eu sou, tenho orgulho do que eu sou. Mas eu vou falar uma
coisa para você, eu não troco a minha calça por certo tipo de calça, que eu não aceito.
Então, eu procuro sempre levar a minha vida assim, entendeu? Não escondo quem eu
sou. Quem quiser gostar de mim é assim. Trato todo mundo com respeito, porque eu acho
que isso é em primeiro lugar. Porque o meu respeito termina quando o seu começa ou vice
e versa. Então, aqui dentro todo mundo sabe da minha vida e todo mundo me respeita,
mas porque eu me dei o respeito, porque eu acho que para ser o que é não precisa está
demonstrando para ninguém. Eu acho que tem coisas na vida da gente pessoal que é
só entre quatro paredes, que só diz respeito a duas pessoas. A minha vida não escondo
de ninguém porque eu não tenho nada para esconder, entendeu? Eu tive uma opção.
Hoje, meus irmãos não falam comigo justamente por isso também, a discriminação deles,
mesmo porque não foi de fora, de gente estranha, foi mais da própria família, entendeu?
Então, eu procurei me isolar e ficar sozinha.
Entrevistadoras:
Eles não aceitaram?
— M.E.M.S.
: Não. Então, eu me afastei deles também por isso também e outras coisinhas
mais, porque espancar mulher? Meu pai nunca ergueu a voz para minha mãe e nunca
espancou minha mãe e ele criou a gente assim, entendeu? Então, eu não admito meus
irmãos ser o que eram e, muitas vezes, eu briguei feio com eles e brigo, entendeu? Então,
hoje eu tenho minha vida pessoal, tive não só foi um relacionamento, foram vários, não
deu certo, infelizmente. Teve pessoas, assim, que eu vivi um ano, vivi dez anos, outra vivi
oito anos, desgastou o relacionamento por causa de trabalho, também porque quando eu
estou trabalhando, é meu trabalho em primeiro lugar. E já tem gente que não aceita isso.
Então, se for para escolher uma mulher, eu escolho meu trabalho.
Entrevistadoras:
E aí as mulheres não aceitam!
— M.E.M.S.:
Não aceitam, né. Eu nunca fui muito de gostar de farrinha. Tenho minha hora
de lazer, assim numa hora beber socialmente, num final de semana outro não, porque
bebida não leva a nada. Eu já bebi muito! Por desgosto, entendeu? Então, eu entrei numa
de beber, assim, eu trabalhava demais e bebia, não dormia, tomando remédio para não
dormir. Hoje, eu tenho uma gastrite brava por isso! Porque, além de ficar (noites e noites)
acordada, tomava remédio para não dormir e bebia, entendeu?
Entrevistadoras:
E aí, como que você saiu dessa fase de beber?
— M.E.M.S.
: Parei. Falei: “Não quero mais isso”. Quer dizer, beber só socialmente agora.
Então, tomar umas duas ou três cervejas depois parar porque segunda tem que trabalhar.
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