Zélia Lopes da Silva (Org.)
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não posso fechar a porta da minha cozinha, senão minha mãe fica com a porta fechada. Só
se eu deixar as coisas abertas. Então, ali fica tudo a Deus querer. Se eu faço um pudim eu
ponho na geladeira, eu vi que sumiu a metade. Eu faço muita coisa por causa da diabete.
Coisa diet, sabe? Eu faço gelatina. Então, essas coisas. Eu compro daquele pão preto,
diet. Eu sei que comem. Eles comem, porque minha mãe fala: “Ah! Não dá pra comprar”. E
eu não vou brigar por causa de comida. Vi que comem minhas bolachas. Mexem na minha
manteiga diet. E a minha porta fica aberta, sempre tem aquela [falta de privacidade].
Entrevistadoras
: Privacidade?
— MJT:
Privacidade que você pode ter ali suas coisinhas. Porque de madrugada dá fome.
A diabete de três horas se tem que comer. Então, eu tenho minhas coisinhas para comer.
Eu não posso comer coisa pesada. Vou lá esquentar um macarrão, esquentar um arroz
e feijão e comer. Não. Aí é perigoso. Tem que comer coisa leve, igual o médico explica.
Coisa leve. Uma bolacha, um chá, um leite desnatado. Tudo isso aí se tem que ter. Então,
eu sempre tenho uma bolachinha na bolsa. Porque quando vem, começo a tremer. Se tiver
que pegar uma coisinha eu não aguento. Acho que, de tanto peso, caio no chão. Então,
tem que controlar. A diabete e pressão alta é controle. Se você controlar bem você leva
muitos anos com ela.
Entrevistadoras
: Então, esse é o sonho?
— M.J.T.:
Meu sonho é ter minha casinha.
Entrevistadores
: Esse trabalho que a gente está fazendo, contando a história de vocês,
para depois escrever um livro, você acha importante as pessoas saberem a história de
vocês, aqui da Cooperativa?
—M.J.T.:
Ah! Eu acho muito importante. Por quê? Ela sabendo a história, eles vão valorizar.
Muitos vão valorizar o serviço que nós fazemos. E vai ajudar também. Têm pessoas que
não se interessam, não. Preferem jogar no lixo, jogar na rua, jogar no terreno baldio do
que separar certinho. Tem calçada que está um nojo. Catador foi lá catar. Se tivesse tudo
separado, aposto que ele não ia mexer no lixo porque não tinha material reciclável. Como
tem, ele vai abrir tudo. Comida para lá, papel higiênico. Fazendo sujeira no meio da calçada
da casa bonita. A mulher vai chegar e encontrar a calçada suja. Porque não quer cooperar.
Não é verdade?
*
7. Relato:
Maria Galdino da Silva
Data da Entrevista:
31/05/2011
Transcrição:
Ana Carolina de Almeida Piccinin e Emily Yaeko Oka.
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