Zélia Lopes da Silva (Org.)
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— M.J.T.:
É. Depois eu fui para a rua. Agora eu faço coleta. Consegui ficar na prensa.
Revistava latinha. Faço tudo aqui dentro. Tudo. Até aquela prensa perigosa eu já aprendi
também. Aqui eu faço tudo.
Entrevistadores
: E você participa da coleta?
— M.J.T.:
Eu participo da coleta de rua. Depois a gente põe para dentro aqui, né.
Entrevistadores
: E você já conhecia esse trabalho de catação ou não?
— M.J.T.:
Eu via a turma ali pegando perto de casa com aqueles carrinhos. Mas não via
a turma pegar. Mas eu não conhecia. Aprendi mais aqui. Conheci os materiais aqui. Me
ensinaram [a conhecer].
Entrevistadoras
: Vocêachaqueesse trabalhoé, hojepelomenos, valorizado, reconhecido?
— M.J.T.:
É muito, muito reconhecido. Porque a gente trabalha aí fora. Nossa. Eles falam:
“Amelhor coisa que eles fizeram”. Sabe? “Amelhor coisa que fizeram foi essa coleta aqui”.
Sabe? Têm pessoas que ficam agradecidas por a gente está coletando, assim, o material
deles. Mas, têm muitos que não interessam, viu? Têm muitos que é só juntar. (Não! Eu
tenho preguiça de juntar. Tudo bem. Ó a natureza. Talvez nós não estamos aqui. Mas os
nossos netos, e os filhos que... Ah! Nós põe no lixo). A gente não vai discutir com eles, né.
Nem podemos. Ás vezes, se escuta coisas que até humilha a gente, sabe? Mas a gente
tem que ficar quieto, que a gente não pode discutir com eles, né?
Entrevistadoras
: Esse trabalho que vocês fazem tem muita importância para o meio
ambiente, não?
— M.J.T.:
Muita. A gente fala, fala. E o rádio fala. A televisão fala... Mas, o pessoal fala não
sabe o que é coleta. A criançada vem visitar o Parque aqui e comenta tudo com a mãe, né.
Aí tem criança que fala assim né: “Mãe o lixeiro chegou”. Fala: “Não filho não é o lixeiro...
O caminhão do lixo...”. Aí a gente explica para a criança. Somos da coleta, de pegar o
material limpinho, o caminhão que pega o lixo [é outro]. Nós não somos lixeiros. Sabe?
Tem pessoa que na rua quer que nós peguemos tábua, tijolo, etc.. Ficam bravos e falam
que vão reclamar para o prefeito. Eles ficam bravos. Aí tem que explicar com educação.
Entrevistadoras
: Quais foram os benefícios, as contribuições que trouxeram para sua
vida trabalhar aqui na Cooperativa, com esse tempo que você está aqui?
— M.J.T.:
Como assim?
Entrevistadoras
: Assim, economicamente falando. Hoje, você tem a sua vida, não precisa
de ninguém; a relação aqui com os amigos. O trabalho aqui trouxe alguma coisa de bom
ou não?
— M.J.T.:
Aconteceu que eu tenho muitas amizades aqui. E quando eu perdi essa vista
aqui, contei com muito apoio aqui. Porque você perde um órgão, perde uma vista, então
eu fiquei muito, assim... [ mas] o pessoal [foi] muito legal. Hoje, eu tenho minha renda. Não
vou dizer pra você que eu não vou precisar dos meus filhos. Mas hoje eu tenho condições
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