Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
83
Entrevistadoras:
Ela questiona bastante isso?
— M.M.S.:
Muito, muito, pensa em uma menina inteligente, só não sei para quem puxou.
Entrevistadoras:
Você visitou a exposição que ocorreu lá na Faculdade?
— M.M.S.:
Não, então, é que para gente está sendo bem corrido, porque já tem duas ou
três semanas que a gente está trabalhando até as sete. Então, como a gente tem bastante
material acumulado e vai voltar a passar o lixo, então, a gente não conseguiu ver ainda.
Entrevistadoras:
E o que você acha desse trabalho que a gente está fazendo de coletar as
entrevistas de vocês para futuramente fazer um livro sobre o grupo, você acha importante?
— M.M.S.:
Sim, é importante, pelo menos para nós, que somos catadores, pelo menos as
pessoas sabem lá fora, conhecem bem nosso trabalho e dê mais importância, é bom.
*
9. Relato:
Noêmia Virgilio Vitor
Data da entrevista:
15/08/2011
Transcrição:
Danillo Rosa
Entrevistadoras:
Então, Noêmia, você sempre morou em Assis, conta pra gente onde
você morava, como que era esse lugar. Se você se mudou depois?
— N.V.V.:
Antes, eu morava em Marília. As coisas para nós estavam muito difíceis. Eu
sempre morei na cidade de Assis. Mas, é como se diz, devido um problema da separação,
que eu era amasiada na época, então, para mim, pode ter sossego, eu fui embora para
Marília com meus três filhos. Depois, eu voltei para cá, para Assis. Voltando para cá eu
estava desempregada. Aí, eu e a Cleuza, que a Cleuza hoje faz parte da diretoria (Cleuza
também morava comigo em Marília), a gente veio para cá e falamos com a Sandra que
na época fazia parte da diretoria. Aí, a Sandra falou para nós, que estava precisando de
pessoas para trabalhar aqui. Só que nós tínhamos que fazer a coleta seletiva, a coleta
de rua empurrando carinho junto com outras mulheres. Aí, depois que eu fui gostando do
projeto. No começo deu vergonha, porque a gente nunca tinha feito esse tipo serviço. A
minha mãe, ela já é catadora há 25 anos, ela já trabalha com material reciclável. Por causa
de estar desempregada, eu comecei a trabalhar aqui na Cooperativa e eu estou até hoje.
Através desse serviço eu pagava aluguel, e através desse serviço eu consegui comprar
minha casa própria, que hoje é onde meus filhos moram, graças a Deus. Eu estou muito
feliz, viu? É um serviço que, às vezes, muitos falam: “Vocês não têm vergonha, não?” A
gente não tem que ter vergonha do que a gente é. É um serviço digno, igual a qualquer
outro serviço. Já trabalhei na esteira, né. Trabalhei na esteira com as meninas. Já trabalhei
no lixo, já fui coordenadora da esteirinha do material reciclável. E, hoje, devido um problema
meu de saúde, então eu não estou podendo ir para a rua. Mas, eu gosto mesmo é de está
1...,76,77,78,79,80,81,82,83,84,85 87,88,89,90,91,92,93,94,95,96,...180