Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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eles começaram falar desse negócio de catador. Eu falei, mas catador? Mas que profissão
é essa? Eu nunca vi falar profissão de catador. Nunca vi falar que catador tem alguma
coisa, sei lá, eu vou vê. E naquela época, quando eu fui a primeira vez na reunião, lá na
Unesp, eu ainda estava na Prefeitura. Eu queria vê, eu queria saber. Na segunda reunião,
eu já pedi a conta da Prefeitura. Entendeu? Daí eu fiquei um mês afastada daqui. Saí,
fiquei afastada porque nós fizemos um mês de capacitação antes de entrar aqui. Daí, eu
me envolvi com a turma, mesmo não entendendo o que estava se passando. Eu sabia que
era um negócio bom, todo mundo falava “É um negócio bom”. É, verdade, vai ganhar bem?
Vai. Ah, então eu vou para lá. Foi aonde que eu fui pra lá e depois que eu entrei mesmo que
eu vi que o negócio era muito sério, menina. Eu hoje eu não trabalho pelo dinheiro. Então,
eu trabalho assim, eu gosto de pensar muito, sabe? De pensar o que vai fazer uma coleta
lá que está lá no meio do caminho e tem um lixo para passar e a gente não tem esteira
suficiente. Então, é a hora de eu colocar a minha cabeça para trabalhar, porque lá atrás
eu tive muito curso de capacitação, de liderança, curso de logística estratégica. Então,
quando entra esse tumulto, então é a hora de eu jogar a cabeça lá trás e buscar.
Entrevistadoras:
E lembrar tudo.
— V.R.C.S.
: É, lembrar alguma coisa para salvar o grupo. Então, não só eu, como tem
várias amigas minhas que fizeram junto comigo. Eu chamo, vamos conversar; vamos vê
o que a gente faz. Então, muitas das vezes dá certo, mas muitas das vezes não dá não
(risos). Eu sei dizer que a Cooperativa de catadores de materiais recicláveis, esse projeto,
até hoje eu luto para que não acabe. Porque esse projeto foi um objetivo meu. Eu larguei
tudo que eu tinha na minha vida para entrar nesse projeto. Eu larguei casa, larguei tudo.
Que eu queria vê esse projeto ir para frente. Não, esse foi meu objetivo por caso que estava
também, muita gente desempregada. E hoje eu falo com gosto, é muito lindo. Hoje, você
vê esses jovens procurando a Cooperativa, querendo trabalhar aqui. Entendeu? Então,
você passa para eles o que você aprendeu. Eles não querem saber mais se no fim do mês
vai receber bônus, se não vai. Têm muitos jovens aqui dentro que eles querem levar esse
projeto para frente, eles não querem parar. E, na época, lá atrás, nós pensávamos nos
nossos filhos, nos nossos netos, que a Cooperativa é um giro, vai girando de mãe para
filho, e filho e assim vai, né. E a gente pensava nisso. E se sabe que já está acontecendo
isso aqui. Nossa, eu fico tão feliz. Nós temos uma catadora que hoje a filha dela trabalha
aí no escritório com a gente. E ela é uma pessoa que desenvolveu tanto, que a gente
se admira de vê que ela está integrada ali no meio dos catadores. E eu penso assim, e
se fosse outra pessoa lá fora, será que estava envolvida desse jeito como ela está? É a
Daniela, essa menina que trabalha aí. Deu certo o projeto. Tem muita coisa que tem que
ser lapidada nas Cooperativas. Entendeu? Tanto essa como em outras tem que se lapidar
ainda, mas que o projeto de Assis deu certo. Deu, e agora só falta dá umas lapidadas
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