Zélia Lopes da Silva (Org.)
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o de mãe. Eu achava, mais será que é verdade? Então, agora eu tenho essa experiência,
eu amo meus seis netos. Amo de paixão eles. Então, para mim a família, por tudo que eu
passei, eu tento tirar essa nuvem negra atrás de mim e pensar só nessas coisas boas que
são meus filhos, meus netos, meu genro, minha...
Entrevistadoras:
Você começou aqui na Cooperativa, na rua. No começo você falou que
tinha um pouco de vergonha?
— N.V.V.:
Tinha, bastante. Eu sempre brincava com a minha amiga Creuza, a gente sai
para rua para catar os carrinhos, para sair nas vilas, nos bairros, né. Aí eu falava para
Creuza não esquecer que nós estávamos precisando. Ela separada, eu também. Então,
nós falávamos dessa forma: “Não esquece que nós estamos precisando”. E nós estamos
aqui. Hoje, ela faz parte da diretoria, graças a Deus, para chegar onde chegou. É uma
responsabilidade a mais que muitos falam: “Ah, mas está lá dentro, lá é mamão com
açúcar”. Mais sossegado é onde nós estamos. Para eles, lá a responsabilidade é bem
mais forte, bem mais complicado.
Entrevistadoras:
Então, o que mudou em sua vida?
— N.V.V.:
Nossa, como mudou! Jamais você via que eu fosse essa mulher alegre, feliz,
que graças a Deus, sabe? Assim, trabalhando com o povo, convive com um, convive com
outro, com os moradores, sabe? Assim, a gente tem autoestima. Antes eu não tinha, eu era
uma pessoa muito triste. Eu era uma pessoa que, às vezes, eu estava até em depressão,
né? Então, hoje não. Hoje eu vejo meu horizonte lá fora completamente diferente. Eu tenho
vontade daquilo, eu vou comprar. Quando que imaginava que eu ia ter uma casa? Que
eu vivia de aluguel. Quando que eu ia imaginar? Em meus casamentos, eu só tive coisas
usadas, eu nunca pude ter uma coisa nova. Uma que o marido que tinha não ajudava,
e tudo que punha em casa era destruído. Então, hoje não. Tenho meu jogo de cozinha
maravilhoso, tenho minha casa. E vou e volto a hora que eu quero. Deus preparou outro
marido maravilhoso para mim que é o irmão da Creuza, né. Que hoje, a Creuza além de
ser minha grande amiga, ela é minha cunhada. Então, sabe assim? São coisas que você
foi tentando conquistar, que valeu a pena. Por tudo que você passou lá trás, valeu a pena
aqui na frente. Sem luta [não há] vitória, né?
Entrevistadoras:
E as amizades aqui na
Cooperativa, são somente colegas de trabalho ou vai para fora daqui?
— N.V.V.:
Não. Não. Eu, eu aqui, eu tenho convívio com eles aqui dentro. Assim, às vezes,
muito difícil, eu vou visitar a Marilusa, na casa dela, vou na casa da Creuza. Mas, já na casa
das outras meninas, o nosso dia a dia ele é muito corrido. Mas, eu tenho um vínculo bom
com eles aqui dentro, graças a Deus, me dou bem com todo mundo: brinco e converso.
E, também, rimos. Porque aqui nós somos uma família, né. Então, para as coisas aqui
poder dá certo e para nós poder viver bem, nós têm que ter uma amizade boa. Então,
aqui dentro, graças a Deus... Lá fora, a gente às vezes se encontra no supermercado, no
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