Zélia Lopes da Silva (Org.)
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na rua com eles, catando material reciclável. Então, eu estou hoje na cozinha.
Entrevistadoras:
Você está com algum problema de saúde?
— N.V.V.:
Estou com um problema de saúde. Em 2008, eu fiz uma cirurgia, essa cirurgia
não foi bem feita. Então, agora eu preciso, lá para janeiro ou fevereiro, fazer outra. No
momento, eu não estou podendo pegar peso, não posso está empurrando carrinho. É por
isso que eu estou na cozinha, ajudando a Terezinha, né? Eu sou ajudante dela no serviço
que tem na cozinha.
Entrevistadoras:
E antes disso, você já teve algum problema de saúde?
— N.V.V.:
Não tive, não.
Entrevistadoras:
Noêmia, vamos voltar um pouquinho para saber mais da sua vida, na
infância. Você se lembra de alguma coisa de sua infância e adolescência?
— N.V.V.:
Oh! Quando nós éramos crianças a gente morava no sítio, na fazenda Novo
Destino. Lá eu vivi até os dez anos com meu pai e minha. Depois, a gente veio embora
para a cidade de Assis. Então, a gente sempre morou aqui. Meu pai bebia muito. Era
alcoólatra e por causa disso era briga constante dentro de casa; e eu já não aguentava
mais aquelas brigas. Meu pai batia na minha mãe, eu entrava no meio. Então, a gente
adolescente, criança praticamente, com doze para treze anos e vendo uma situação
dessas. Nós vivemos a vida assim. Aí eu saí da casa dos meus pais com treze anos. Aí,
eu conheci um rapaz né. Comecei a namorar ele. Eu trabalhava na roça cortando cana.
Entrevistadoras:
Você já trabalhava? Foi seu primeiro emprego?
— N.V.V.:
Já, já trabalhava. Foi meu primeiro emprego. Trabalhava na usina Sobar de
Maracaí. E lá a gente cortava cana. E aí, eu conheci esse moço lá, que é o pai na minha
filha mais velha. E depois disso, a gente (que na época não era namoro) fugiu, né? Hoje,
é ficar. Então, na época eu fugi com ele, na idade dos treze anos. Aí eu vivi com ele quatro
anos. Depois, também foi mais uma quebrada de cara. Aí eu separei. Criei a minha filha
praticamente sozinha, sempre trabalhando na roça. Era colheita de café, era corte de cana,
era na época carpa de soja que nesses tempo ainda existia. Agora já não tem mais. Então,
a gente trabalhou muito na roça, e antes de chegar até aqui. Trabalhei também bastante
de empregada doméstica, né, com meus 14, 11 anos. Eu morava na casa da dona Rafida
e do seu José, pai do doutor Salim.
Entrevistadoras:
Você se separou do seu marido e foi morar com eles?
— N.V.V.:
Não, antes de eu me separar do meu marido. Eu trabalhava de empregada
doméstica para poder ajudar minha família. Eu morei nessa casa também de empregada
Foi depois que eu conheci ele, que foi na roça.
Entrevistadoras:
E você tinha irmãos?
— N.V.V.:
Tenho. Tenho cinco irmãos. Nós fomos ao todo catorze irmãos. Mas, vivo, com
a gente cinco. Tem uma irmã minha que trabalha aqui também. Minha irmã mais velha, ela
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