Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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eu acredito muito na religião do Padre Marcelo. Eu acredito porque não é aquela religião
católica fechada. Ali você pode conviver com várias espécies de religiões e aprender o que
é certo e o que é errado. E o Padre Marcelo prega muito isso, você é mais você, você sabe
o que você quer para tua vida.
Entrevistadoras:
E você tem algum sonho que ainda pretende realizar?
— V.R.C.S.
: Tenho. Não sei se eu vou conseguir, mas eu tenho e vou lutar para isso. O
meu objetivo hoje aqui na Cooperativa é fazer um projeto pra tirar essas crianças das
mães catadoras daqui que não tem Vó para olhar, não tem irmão, não tem nada. Pegar
essas crianças para eu olhar depois do expediente, do serviço. Porque aqui, muitas das
vezes, a gente entra, não tem horário para sair porque, às vezes, tem horários especiais
como eu falei. Às vezes, a coleta está acumulada. A gente vai fazer uma estratégia e tem
que trabalhar à noite. E nesse período, tem umas crianças que estão na creche e não tem
ninguém para ir buscar. É onde as crianças levam gancho da creche, às vezes. A mãe tem
que faltar e se a mãe falta perde o rateio, perde a metade do bônus, é um desfalque muito
grande no bolso. Então, eu gostaria mesmo de fazer um projeto para que eu pudesse
tomar conta dessas crianças no período que as mães estivessem trabalhando aqui. Não
sei se vai dar certo esse projeto, mas eu vou lutar para isso.
Entrevistadoras:
Esse trabalho que a gente está fazendo de, futuramente, ter um livro
sobre a memória do pessoal daqui, dos catadores, de fazer o site da Cooperativa, como
você vê isso?
— V.R.C.S.
: Sinceramente? Eu acho que o trabalho que vocês estão fazendo aqui é um
trabalho muito importante, porque nós estamos passando para vocês o que é a realidade
daqui de dentro que a gente está vendo. E vocês, conversando com a gente, vocês vão
entender o porquê que a gente luta. O que a gente quer. E isso é muito bom. Isso daí é
ótimo.
Entrevistadoras:
Acho que é isso. Tem que preencher essa fichinha aqui. Você me disse
seu nome completo, a data que você entrou na Cooperativa foi 2003?
— V.R.C.S.
: Foi quando surgiu ela, em 2003.
Entrevistadoras:
Você tem algum apelido aqui dentro?
— V.R.C.S.
: Que eu saiba não (risos)
Entrevistadoras:
Não (risos). E data de nascimento?
— V.R.C.S.
: 15/01/58
Entrevistadoras:
Cor, raça que se considera.
— V.R.C.S.
: Eu não sei, porque a minha mãe ela é índia, o meu pai italiano.
Entrevistadoras:
Vou pôr pardo ou branco? No seu registro está como? Branco?
— V.R.C.S.
: Branca.
Entrevistadoras:
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