Zélia Lopes da Silva (Org.)
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depois fui para o corte de cana. Levantava 4 horas da manhã e saía 4 horas da tarde.
Trabalhei 4 anos no corte de cana. Aí, depois que acabou o tempo de serviço que é
9 meses, a gente fica parado para receber o INSS, todo o dinheiro, né? O 13º essas coisas.
Depois disso, eu resolvi catar material na rua.
Entrevistadoras:
Essa ideia surgiu como? Você conhecia algum catador?
— A.J.T.:
Não, eu mesmo montei um carrinho pra mim. Assim, um carrinho de pau, né.
Com roda de velotrol, era um carrinho pequeninho. Aí, eu montei aquele carrinho já virou
um grandão. Aí, a pauleira era para vender para atravessador porque eu não conhecia a
Coocassis ainda. Para mim, nem existia Cooperativa. Aí, um belo um dia eu estava catando
lá na COHAB da rodoviária, sabe? Para o lado de cima eu encontrei com a Ana Maria. Aí, a
Ana Maria chegou parou o carro e falou assim: “Como é o seu nome?”. Eu falei meu nome
pra ela, né. Aí, ela falou assim: “Se você, invés de ficar catando na rua porque não entra
numa Cooperativa”. Falei para ela: “Mas, como que eu vou entrar lá sendo que eu nem
sei onde é”. Aí, ela me deu endereço. Cheguei em casa, despejei a reciclagem. E resolvi
ir no sábado que era dia de reunião no barracão. Aí, eu peguei e todo sábado ia à reunião
e ficava atentando o Magrão que era o presidente, na época. Não sei se você chegou a
conhecer o Magrão? É o Jeferson. É o primeiro presidente, o Jeferson, seu Zé Liel, seu
Osvaldo. Era tudo presidente. Aí, eu cheguei no presidente que era o Jeferson e falei para
ele me arrumar um serviço que eu estava precisando, que eu tinha que tratar da minha
família e eu precisava trabalhar. Aí, ele falou para passar no dia seguinte, mas ficou me
embromando. Aí, fui lá de novo e eu falei para ele assim. Você vai me arrumar um serviço
ou não vai, você está pensando que estou aqui para brincar? Aí, ele falou assim: “Gostei da
sua atitude, quer começar a trabalhar mesmo? Você quer trabalhar mesmo?”. Falei assim:
“A qualquer hora que você quiser”. E ele respondeu: “Então pode começar a trabalhar”.
Comecei a trabalhar, desde 2001 no barracão que era a primeira coleta de Assis e ficava lá
na rodoviária. Eles catavam lá, faziam a coleta lá e levavam para o barracãozinho. Triava
tudo, prensava, vendia e rateava. Era assim. Aí, nós começamos a catar, a fazer catador.
Eram 100 catadores na rua. Entre eles estavam eu e seu Osvaldo.
Entrevistadoras:
Voltando um pouquinho nesse tempo que você mudou várias vezes.
Seu pai estava junto? Ou era só você e sua mãe?
— A.J.T.:
Não. Era eu, meu pai, meus dois irmãos, irmão e irmã e mais dois, vamos falar,
dois veados, que moravam conosco, mas só que respeitavam a gente para caramba. Só
que eles enganaram minha mãe que era meio bobinha. Tudo que os outros falavam para
ela, ela acreditava na esperança de melhorar a vida que nem aquelas pessoas que vem do
nordeste para São Paulo lá, que diz que São Paulo tem um rio de dinheiro. Que você vai
pegar dinheiro a rodo. Não vai nessa onda não que você só toma no nariz.
Entrevistadoras:
Então vocês foram mudando para tentar melhorar de vida? Procurar
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