Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
111
frente. E eu acho que eu não sei, mas um colega meu falou que eu, ele vamos fazer um
curso de capacitação de deinstrusora. É uma máquina, né? Aquela máquina que está ali
em cima, ali pra nós trabalhar com ela, né? Aí vou ter um treinamento para trabalhar com
aquela máquina ali, lá em São Carlos.
Entrevistadoras:
Você já fez algum outro treinamento? Outra capacitação?
— A.J.T.:
Eu fiz em São Paulo. Fiquei quinze dias em São Paulo. Fizemos curso lá, mais
não lembro o curso mais. Foi na PUC. Esqueci o nome lá. Tem até os livrinhos lá. Uma hora
dessas vou pegar para ver se [lembro]. Aí eu fiz o cursinho lá, né? Para aprender a mexer
com reciclagem, né? Fiz curso de capacitação de meio ambiente. Aí mexia um monte de
coisa, né? Montava pandeiro, essas coisas. Tudo com reciclagem, mas era gostoso. Fiz
papel de claista também. Craisso sabe que que é craisso?
Palhaço mimo.
Entrevistadora 1:
Hããããã...
Entrevistadora 2:
É o que?
Entrevistadora 1:
Palhaço mímico, sabe.
—A.J.T.:
Palhaço mímico é o palhaço verdadeiro, o palhaço verdadeiro ele pode tocar, ele
pode falar e o claisso não. O claisso ele pode tocar o nariz em você, só não pode falar, não
pode sorri. Pode fazer você sorrir, mas não pode sorrir. Entendeu. Só é à base de sinais.
Entrevistadoras:
E antes que você começou fazer catação por conta própria, você
pensava alguma coisa desse trabalho?
—A.J.T.:
Ah, tipo assim. Eu pensava evoluir, né? Crescer na vida, né? Igual a Cooperativa.
O meu pensamento é a Cooperativa crescer, não cair. Para melhor, né? Crescer para
melhor mais condições mais dinheiro, melhorar mais o salário do pessoal, mais gente. E
melhorar para gente, né? Porque melhorar para eles é melhorar para nós também, né? E
não só para alguns e para outros não, tem que ser assim igual.
Entrevistadoras:
E você alguma vez se sentiu descriminado com esse trabalho?
— A.J.T.:
Não. Se a pessoa discriminar eu tenho a palavra na ponta da língua. Se ele me
chamar de lixeiro eu vou dá a resposta. Se ele chamar eu de preto eu vou dá a resposta.
Eu sou catador de material reciclável. Não catador de lixo, né?
Entrevistadoras:
O que a Cooperativa trouxe para sua vida? O que ela mudou?
— A.J.T.:
Ah! Ela trouxe melhoras. Me ajudou bastante a cuidar da minha família, a tratar
da minha família, a crescer na vida. Incentivou minha agilidade, né? Que eu era meio
lerdo, hoje eu sou ligeiro. Hoje eu sou ativo, hoje eu penso pra falar. Antigamente, eu não
pensava para falar não. Eu falava na lata. Podia ser para qualquer um presidente vice-
presidente, qualquer um. Eu falava. Eu não tenho a língua presa, tenho a língua solta. O
que tem para falar, eu falo na cara. Eu não gosto de falar por trás. Por exemplo, eu estou
falando com você aqui, aí eu chego ali e conheço ela, aí eu falo, ah você viu aquela fulana
ali, ela não presta. É isso, não estou errado?
1...,104,105,106,107,108,109,110,111,112,113 115,116,117,118,119,120,121,122,123,124,...180