Zélia Lopes da Silva (Org.)
108
pai que não é pai dele. Ele é padrasto dele. Aí foi aquela desavença, eu briguei com ele.
Porque, na época, eu era pequeno ele batia, né? Mas depois que eu cresci eu criei braço.
Ele não aguentou comigo. Aí, eu quebrei ele. Aí foi na onde que eu queria matar ele, né?
Eu sou ruim. Minha mãe tem [vez] que eu vou falar com ela e ela fala uma coisa que não
tem lógica nenhuma. Daí eu já dou uma resposta mau para ela e ela fala: “Nossa! você
é bruto hein! Você é nervoso, hein!”. E quando eu chego nervoso porque aqui no serviço
você está naquele vuco-vuco, aquele monte de gente na sua cabeça falando, barulho
de prensa na sua cabeça, né? Você fica meio abilolado, né? Aí, você chega em casa e
quer ter sossego, você quer relaxar a mente primeiro, pra mode você conversar com sua
esposa ou com sua mãe. Aí, você já chega estressado. Aí, a mulher fica perguntando, “Ai,
que você tem, amor? Ai, que você tem, amor?”. Eu falo para ela assim, a primeira vez:
“Não tenho nada, amor”. Aí depois ela volta de novo com a mesma pergunta. Aí na terceira
vez eu já solto o verbo. Aí ela saí e me deixa sozinho.
Entrevistadoras:
Como vocês se conheceram?
— A.J.T.:
Pela minha sogra. É tipo assim, por correspondência. Tipo assim. Eu mandava
uma cartinha para ela, pela minha sogra. Aí ela começou a gostar de mim pela carta,
porque eu sou bastante romântico, né? Eu escrevo poesia. Aí começava a mandar umas
poesias para ela, mas de sinceridade. Que negócio de mentira para mim não vira.
Entrevistadoras:
E faz quanto tempo que vocês estão juntos?
— A.J.T.:
Fazem 7 anos, né? Meu irmão faz 15 que está com a mulher dele.
Entrevistadoras:
E sua irmã?
— A.J.T.:
Ahhh... minha irmã está solteira, tadinha. Está 31 anos solteira.
Entrevistadoras:
Mas, com ela você conversa?
— A.J.T.:
Ahhh... O loco! Ela é meu clone. Não sou da mesma placenta, mas sou gêmeo
com ela, entendeu? Nós somos quase iguais.
Entrevistadoras:
Nenhum dos seus irmãos trabalha aqui? Ou trabalhou antes com
catação?
— A.J.T.:
Não! Só eu. Eu e meu irmão, nós catávamos na rua. Nós começamos a catar na
rua, papelão. Eu era pivete que andava dentro do carrinho. Meu irmão puxando carrinho
com um monte de papelão, assim alto, e eu em cima do carrinho. Mais alguma coisa?
Entrevistadoras:
E os seus filhos?
— A.J.T.:
Ahhh meu filhos... O primeiro casamento meu, eu já casei uma par de vez.
Eu já tive cinco mulheres.
Entrevistadoras:
Cinco?
— A.J.T.:
É! Sou porreta. O primeiro casamento foi com uma mulher de Echaporã, né?
Aquela lá eu amei, vixi! Aquela lá eu dava minha vida por ela. Sabe? Eu punha minha mão
no fogo por ela. Depois ela me traiu. Nossa! Eu quebrei ela no pau, briguei com ela. Tive
1...,101,102,103,104,105,106,107,108,109,110 112,113,114,115,116,117,118,119,120,121,...180