Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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Entrevistadoras:
Você toca violão também?
— A.J.T.:
Toco música do Bruno e Marrone. Toco música do Jota Quest, Metallica, Quis,
Kiss, Legião Urbana. Aquela música do Elton John, que ele toca no violão.
Entrevistadoras:
Você aprendeu sozinho?
— A.J.T.:
É, aprendi vendo o pessoal, pela televisão. Vocês chegou a vê Eduardo Costa
tocar violão? Eu toco mais ou menos quase igual ele. Mais tipo assim, eu aprendi tocar com
ele, né? Vendo as posições dele. Fui aprender e voltava o CD de novo e ia aprendendo.
Voltava o CD umas 5, 6 vezes, ia aprendendo. Eu estava com uma ideia de montar um
grupo de pagode, tipo “Coca Assis Sem Preconceito”. Mais o Claudinei falou que não
adianta, assim, pôr o nome da Cooperativa. Tinha que ser: Coca Assis. Porque tem muito
preconceito contra a Cooperativa, né? Por isso que eu pus Coca Assis Sem Preconceito.
O grupo de pagode de Assis. Também toco pandeiro, toco surdão, toco um monte de coisa.
Já participei da escola de samba da V.O.
Entrevistadoras:
Você acha que tem alguma importância esse trabalho que você está
fazendo?
—A.J.T.:
É, envolve mais a mente da gente, né?Agente pensa mais, né? Eu sou acanhado,
eu não gosto de falar da minha vida pra ninguém. Eu gosto de guardar pra mim mesmo,
sabe? Nem uma psicóloga que, se chega em mim não tira nada de mim. Porque eu sou,
eu sou uma pessoa, guardo pra mim. Por isso que eu ando muito doente, eu fico muito
estressado. Não adianta eu falar da minha vida pra você, se você não vai me ajudar, né?
Você não é Deus pra me ajudar, é! Só pra Deus eu reclamo. Ixe! Ele já está até surdo de
tanto que eu reclamo. Às vezes, você tem que fingir que não está acontecendo nada, tem
que fingir, tem que tocar o barco pra frente. E sempre sorrindo, né? Tem um ditado que eu
sempre falo: Sofra sempre sorrindo.
Entrevistadoras:
Você falou que é católico.
— A.J.T.:
É. Fui católico. Aí com o tempo eu batizei na igreja evangélica, né? Hoje eu sou
desviado. Como é que você falou mesmo? Esse negócio de racismo. Preconceito para
mim é racismo. É um preconceito, né? Na igreja evangélica eu ia direto. Aí fui pedir uma
oração para uma mulher branquinha, assim, que nem ela, mais bem mais branca que ela.
Eu fui pedir uma oração para ela. Ela é obrera. Tudo quanto é obrera não pode negar uma
oração para você. Aí ela me passou para frente, passou para outra pessoa e Deus tocou
no meu coração pra pedir uma oração para ela, né? Ah! Sai daqui de perto de mim. Agora
não sei por que sou preto? Aí eu cheguei no pastor e perguntei se podia isso, né? Aí ele
falou não! Não pode. Aí, no mesmo dia, o pastor chamou a atenção dela. Daquele dia em
diante eu nunca mais fui à igreja. Não vou dar essa moral para ela. Aí, um belo dia (eu
esqueci de contar para você), também que eu cantei no coral Coca Assis. Não sei se você
já ouviu falar do coral Coca Assis que nós cantamos música natalina, né? Nós fomos lá
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