Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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que o tempo está mudado. Hoje, a gente procura avisar para preservar a natureza, né. Que
a gente vive do ar, da árvore, vive de tudo isso, aí. Se a gente só pensar em jogar fora, o
que vai acontecer? Hoje, eu estou vivo. Daqui mais cem anos pode ter meus filhos e neto.
Então, a gente não imagina isso lá para frente. Tem que cuidar da natureza. A Natureza é
tudo na vida da gente.
Entrevistadoras:
Não é só um material de onde vocês tiram a renda?
— A.L.M.:
Porque a gente pega um papel e joga no lixo e lá vai derrubar uma árvore,
imagina. Hoje, não precisa, graças a Deus se recicla o papel. É a mesma coisa da caixinha
de leite. Hoje, fabrica um monte de coisa, fabrica teia. Igual a PET que fabrica cano PVC,
um monte de coisa, né. Igual o plástico que fabrica saquinho de novo, fabrica sacolinha,
fabrica tudo de volta. Antes não. Antes a gente pegava matéria-prima da natureza.
Entrevistadoras:
As relações, aqui, são de amizade ou de trabalho?
— A.L.M.:
Eu tenho bastante amizade, sim, graças a Deus. Cada um tem uma mente, né.
Eu, graças a Deus, no que eu puder ajudar eu ajudo.
Entrevistadoras:
Essas amizades vão além da Cooperativa?
— A.L.M.:
É claro. Porque hoje a gente vive mais dentro da Cooperativa do que na casa
da gente. Porque, saio de manhã e chego tarde. Amanhã, você já acorda de novo e fica
menos na casa da gente. A gente fica até mais tarde, entendeu? Então, a gente vive aqui.
Como eu falo, não adianta vocês discutirem, porque a gente tem duas famílias: uma em
casa e uma aqui, no trabalho.
Entrevistadoras:
E essa união entre vocês...?
— A.L.M.:
Graças a Deus, está indo. A gente vai levando.
Entrevistadores:
Tem alguma atividade de lazer que você faz nas horas de folga?
— A.L.M.:
Ah, de vez em quando a gente se une, umas três, quatro, cinco pessoas, uma
turminha, faz um churrasquinho na casa de um. Toma uma cervejinha. De vez em quando,
saio para jogar bola com os outros amigos.
Entrevistadoras:
Você tem algum outro sonho?
— A.L.M.:
Ai! (rs) Vários sonhos a gente têm na vida de melhorar mais, né. Eu já penso
diferente, né. Eu não gosto de falar muito de meu sonho. Eu gosto de deixa acontecer. Vai
lá, que não dar certo e a gente quebra a cara. Eu tenho vontade de ter meu próprio negócio
mesmo, entendeu? De mexer com reciclagem. Vou ter meu próprio negócio, entendeu?
Entrevistadoras:
Esse é seu sonho?
— A.L.M.:
É, ainda é.
Entrevistadoras:
Para você, tem alguma importância esse trabalho que a gente está
fazendo?
— A.L.M.:
Olha, eu acho legal, que o pessoal pode conhecer mais. Alguns não conhecem
como é a Cooperativa, hoje. Tenho certeza. Hoje, você vai perguntar para uma pessoa o
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