Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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Cooperativa era Contravale. Isso foi em 2001, antes da Cooperativa. Aí não deu certo.
A gente foi pegar um serviço lá para Tatuí, não deu certo. Sempre a gente trabalhava
nesse processo de cooperativa de trabalho. A fiscalização sempre estava em cima. A gente
pegou o contrato com a LL de quatro anos, para trabalhar em Tatuí. E teve um monte de
gente indo para lá, meu Deus do céu. O trabalho cooperativo era assim: a gente trabalhava
na produção. A empresa, depois, ela pagava para dá descarrega dos vagões de trem.
Pagavam, vamos supor, uns setenta centavos por tonelada, para descarregar. Se vocês
colocassem no chão, ele não pagava para carregar o caminhão de novo. Então, quando
jogavam para dentro do barracão, se estava ganhando uma vez só. E quando a gente
ia no barracão, não ganhava. Então, eu lembro que eu cheguei a trabalhar 190 horas
a mais e não conseguia ganhar [pois quando] dividia as despesas não sobrava nada.
Minha experiência de cooperativa era essa. Não foi muito saudável, não. Tinha jornada de
trabalho excessiva. Por falta de pessoal, meu irmão teve que romper o contrato lá. Mas,
eles seguravam muito nós na empresa, lá.
Entrevistadoras
: Eram setenta centavos por tonelada, por pessoa?
—C.D.O.:
Não. Eu tinha que movimentar trinta e cinco toneladas por dia para poder ganhar
meu dia. Vamos supor se num dia eu ganhava setenta, oitenta reais ou então cento e vinte,
no outro dia eu não ganhava. Então, o outro dia tinha que fazer o inverso disso. Tinha
dia que a gente ganhava setenta reais, mas depois ficava um monte de dia sem ganhar.
Aí desanima todo mundo. Todo mundo ia embora. Eu fiquei esse tempo fora da cidade e
aí eu fiquei desempregado. Daí olhei, minha mãe catava. Comecei a procurar emprego.
Aí minha mulher foi me visitar lá e ficou grávida. Aí, daí (risos) de novo desempregado e
outra criança para nascer. Aí comecei a procurar serviço e não achava. Aí andei pedindo à
Assistência Social cesta básica porque eu estava desempregado. E não estava pagando
mais aluguel. Comecei a fazer uns bicos. Aí eu saía de bicicleta, colocava as coisas na
bicicleta. O meu serviço era de guarda. Trabalhava de guarda e pegava material na rua.
Sempre pegando latinha, enchia uma sacola. Você não vê, mas amassava uma por uma.
Eu trabalhava na avenida e ia amassando as latinhas e ia colocando na sacolinha. Eu
ganhava um salário e meio de guarda né. Só que era um trabalho que ia receber dos
lojistas, né. Uns queriam pagar, outros, não. Então, tinha uma pracinha ali né, aí comecei
a ter dificuldade com esse contratante. Também tinha a concessão da rua. Quem chegar
primeiro tem a concessão. Ele queria vender caro aquele pedaço da rua, porque, no caso,
ele chegou primeiro. Ele tem autorização de explorar aquele espaço ali, de guardar, você
não pode pegar para você. Então, não tinha dinheiro para compra aquele espaço. Depois
disso, ele vendeu para outro cara esse espaço da rua, de fazer guarda. E o cara arrumou
uns relógios e colocou chave, um monte de chave pelas ruas da cidade. Eu saía daqui
da Caixa Econômica Federal, entrava na Rui Barbosa, subia do lado do Shopping, saía
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