Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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porque antes do processo da Cooperativa era só de catador, não era processo coletivo.
A gente catava material, levava para o barracão e aí levava para casa. Aí o caminhão da
Cooperativa retirava. A venda era coletiva, mas a atividade não era coletiva, até 2003.
Entrevistadoras
: Foi em 2003, depois formou a diretoria.
— C.D.O.:
Aí, a Cooperativa foi criada em abril de 2003. Aí foi feito uma diretoria de
nove meses, temporária, até a primeira eleição que ia ter um mandato maior. Teve essa
proposta de vir tirar lixo na esteira né, e de fazer um grupo para trabalhar coletivamente
aqui dentro. E aí começou a fazer essa discussão, porque a Prefeitura estava jogando o
lixo diretamente no aterro. Aí, apareceu essa possibilidade de vir triar todo o lixo aqui na
Prefeitura e o lixo e o material triado, a renda nossa. Aí fizemos um grupo com parente de
catador, ex-funcionário do Parque de reciclagem e pessoas conhecidas que participavam.
E, aí, esse grupo de 35 pessoas participou nesse processo de discussão. Aí, a gente não
parou a atividade, ia catando e fazia as reuniões de preparação para vir trabalhar aqui
na usina. O processo foi mais ou menos do começo de abril até setembro. E aí eu ficava
um pé lá outro cá. Eu catava e ficava pensando: “Será que vai dá certo esse negócio
de participar? Acho que vou ficar sozinho mesmo. Não, vou com esse grupo não”. Nas
reuniões já arrancava. Acontece que ninguém trabalhava nesse processo coletivo. A gente
se encontrava em reunião, né. Aí ficava eu e outros discutindo: “Você passou no meu ponto
e não sei que lá”. E ficava essa discussão e a gente na rua era uma competição, né. Às
vezes tinha uma caixa de papelão ali; eu estava aqui e você estava lá e vinha correndo
pegar, aí era porrada. Depois desse processo de vir para a usina, eu vim para cá. Aí, no
começo entrei como um dos coordenadores da usina. Foi complicado porque [havia] o
pessoal da Prefeitura; além disso, trabalhava 30 da Cooperativa e 30 da Prefeitura. E eles
judiavam muito de nós. A gente vinha quinze de manhã e quinze à tarde, em dois horários.
Uma turma entrava, das sete às duas, das sete ao meio-dia. A outra turma do meio-dia às
seis da tarde. E eu entrava ao meio-dia e ia até seis da tarde, nas duas turmas. A gente
viu que não estava dando certo, né. Estava dano muito problema. O que a gente fez foi:
“Ah, vamos fazer uma turma só né”. Mesmo assim, o pessoal que vai para prefeitura
eles enchiam os baldes de caco, enfiava ferro em baixo do lixo. Aí quebrava o moinho. Aí
eles chamavam nossa atenção, xingavam: “Tem que olhar. Não pode deixar quebrar esse
negócio”. E o homem que era encarregado, ele era do contra. Nunca ele ajudou. Sempre
queria ferrar e dizia que não ia dar certo. Ele falava isso para nós. Mas, vai fazer nove anos
que a gente está aqui.
Entrevistadoras
: E você tinha a intenção de ficar aqui na Cooperativa?
— C.D.O.:
Não, a bem da verdade, não tinha não. Minha intenção era arrumar um serviço
melhor, mas depois a gente começou a ter um rendimento bom. A gente começou a
conseguir garantia de previdência, garantir uma renda fixa. A gente entrou com um salário
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