Zélia Lopes da Silva (Org.)
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2005, chegou uma época que a gente não tinha nenhum motorista. O salário era muito
baixo. Não achava ninguém, nem para dirigir. Não tinha ninguém dentro da Cooperativa que
dirigisse. Hoje, nossa, todo mundo dirige. Mas foi através do trabalho que deu condições, o
pessoal tirar carta. Uma carta hoje está mil e duzentos, mil e trezentos, oitocentos reais. A
Cooperativa foi dando curso de coletivo, pagando a carta para outro, depois descontando.
Então, evoluiu muito, né.
Entrevistadoras
: Em relação ao meio-ambiente, em que a Cooperativa ajuda? É uma luta
de vocês?
— C.D.O.:
Estamos dentro. Eu não vou ser hipócrita, não. Caí no meio-ambiente por causa
de um problema meu também (risos). Fiquei desempregado e o meio-ambiente (risos)
passou a ser uma atividade [de sobrevivência]. Passei a conhecer e também a lutar, porque
se luta quando a gente conhece. A gente pensa em defender a Amazônia, mas a gente tem
a nossa, o ambiente onde a gente vive, já que estamos pela força do destino aqui. Porque,
assim, um catador, a gente não pode falar que nós é catador. Ah! catador é ambientalista.
Não, a gente é ambientalista na prática, mais na prática, dentro de um sistema, né.
Benza Deus que colocou nós nessa cadeia de preservação, de ajudar a preservar. Com
orientação a gente consegue fazer. Um catador desorganizado ele não consegue muito,
não consegue ter uma leitura do trabalho dele. Pode proteger e pode prejudicar também.
Ele pega um material aqui e vende para uma empresa que não tem responsabilidade
nenhuma com o meio-ambiente. Então, a Coocassis hoje, com a estrutura que ela tem,
a gente consegue, a gente vende para as empresas grandes que tem um tratamento de
água, que tem as certificações. Então, é difícil a gente vender para atravessador. Então,
a gente tem esse cuidado. E todo material que a gente pega, a gente traz para cá, ou a
gente destina para a empresa, ou a gente manda para o aterro que é o lugar [apropriado] e
não jogar em bueiro. Sempre foi a orientação desde lá trás, quando a gente era catador na
rua, autônomo. A gente, toda vez que abria uma sacolinha, a gente abria, tirava o material
e fechava de novo. Ou então, a gente levava um saco do lado, colocava dentro daquele
grande e amarrava. A gente nunca estourou sacolinha na rua. [Esse assunto] sempre era
tema de reuniões. E a gente sempre [orientou para não jogar] em terreno baldio. A gente
sempre fez o processo de limpeza de terreno baldio. A gente sempre está nas campanhas
da dengue, acompanhando, cedendo caminhão para a companha. Aí, estamos dentro,
né. A luta nossa, hoje, é contra a incineração, porque a gente sabe que são tecnologias
que não tem na Europa e no Japão. São tecnologias que, que não tem uma investigação
sobre qual os gazes que emitem e o custo de uma usina térmica é muito caro. É a mesma
coisa de queimar água, né. Então, ela é um processo que a gente teme muito né, porque
o material reciclável é a renda do catador. Então, a gente pensa muito nisso.
Entrevistadoras
: E a relação de vocês, aqui dentro da Cooperativa, é de amizade ou de
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