Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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sociedade tem. Cai tudo por terra. Geralmente, a pessoa se revolta quando vê o acesso
que todo mundo tem direito. Essas coisas, numa sociedade meio hipócrita, meia balizadora
que as pessoas tem que fazer aquilo para a pessoa fazer parte. Também estamos num
processo de construção, desde olhar para trais, daí se fala, a gente andou um palmo, mas
foi um palmo bem andado. Acho que a maior conquista da gente é essa qualificação. É
promover a pessoa e a pessoa entender a sociedade, vê como ela funciona. E, aí sim,
você começa a ter alguns objetivos, algumas lutas porque quem constrói a história é a
gente que faz todo dia, né. A história é feita pelo povo né, a gente sente muito isso né, na
militância da gente, na luta, no dia a dia.
Entrevistadoras
: Vocês se sentem construindo essa história?
— C.D.O.:
Ô, a gente constrói porque isso é uma utopia. A gente sabe que dentro desse
terceiro setor que eles falam que a gente é, a gente está construindo o terceiro setor, mais
a gente está construindo para chegar em primeiro, segundo. Primero é difícil, mas no
segundo setor a gente vai, sim. Porque a gente pensa assim: o capitalismo não vai gerar
mais tantos postos de trabalho que prega, né. Agente tem de construir uma alternativa que é
paralelo ao capitalismo que é de promoção das pessoas e o processo da Cooperativa. Não
é processo só trabalho, é um processo de conhecimento do mundo do trabalho. Não é uma
coisa pequena que amanhã ou depois ela vai sentir efeito nas políticas. Já está sentindo,
porque a gente, antigamente, não tinha acesso à política pública. Hoje, a gente está tendo
acesso. Então, quando o governo começa a potencializar o povo nessa distribuição de
renda, o povo se promove. Porque se a gente tiver um trabalho precário e condições de
trabalho precárias, não tem domínio de várias tecnologias. Caminhão, carrinhos, prensa,
os espaços. Isso para os catadores foi muito importante. Eu poderia compartir. Eu pensei
que era uma coisa que pudesse ser passageira porque tem muito exemplo de filhos de
catadores que hoje estão dentro da Cooperativa. O primeiro emprego está sendo na
Cooperativa. A gente tem pessoas que estão fazendo faculdade e pensando em ficar na
Cooperativa, né. Exemplo, a Daniele. Ela trabalha na Cooperativa, mais ela está fazendo
faculdade de Contabilidade. A gente precisa de um contador, então. E eu, quando entrei
na Cooperativa, não tinha carta. Só de carroça. Da parte, dentro da Cooperativa, consegui
tirar carta de motorista. Hoje, eu dirijo ônibus. Então, eu entrei administrador e estou com
um monte de atividades, né (risos). Não só. Eu lá, diretor da Nova América (risos)...
Entrevistadoras
: E como diretor, como que era o seu trabalho diário?
— C.D.O.:
Ah, o meu trabalho é desde a catação até de dirigir entendeu? Dirigir o coletivo.
Dirijo caminhão, trabalho com carrinho, carrego caminhão, né. Faço tudo.
Entrevistadoras
: Não é porque você é o diretor, o presidente que tem trabalho especial.
— C.D.O.:
Ser presidente é fazer tudo, geralmente (risos). E ter mais responsabilidade.
Acho que, hoje, o processo está bem diferente. Muitas pessoas estão na Cooperativa. Em
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