Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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trabalho?
— C.D.O.:
Então, a relação nossa, a gente tem uns espaços de reuniões, espaços de
cultura, as festinhas de confraternizações. Nesse processo, uns são amigos. Um grupo é
evangélico, outro grupo é católico. Então, cada um convive no seu espaço. A gente, dentro
da Cooperativa, antes não tinha, mas hoje a gente tem uns 30% de evangélicos; outros 3%
são ateus, outra, né, então (risos)...
Entrevistadoras
: Tem de tudo, assim?
— C.D.O.:
Tem de tudo. Tem um pessoal que é de candomblé. É essa origem africana que
antigamente eu criticava a minha avó. Porque minha, ela era de escrava e ela tinha um
terreno. Eu não entendia, mas hoje eu intendo que é uma cultura que a igreja acabou com
essa cultura que ela tinha.
Entrevistadoras
: E sua avó tinha e você nunca entrou em contato com essa religião?
— C.D.O.:
Então, o pessoal falava que tinha que fazer meio escondido porque tinha um
preconceito muito grande. Hoje eu sei. Eu fui à Bahia num evento e eu vi lá que é tão
normal essas coisas. Eu me lembrei de minha avó. Ela nasceu na Lei do Ventre Livre. E
morreu em 1982. Eu vivi pouco tempo com ela. Ela morreu com 112 anos. Ela nasceu na
Lei do Ventre Livre quando ela nasceu e ela contava para nós. Ela era bem negra né, e os
olhos dela eram azuis.
Entrevistadoras
: O olho era azul?
— C.D.O.:
Olho azul. Eu tenho dois primos que tem o olho azul. Eu não puxei nada
dela. Puxei só as sobrancelhas (risos). Queria ter o olho azul, já pensou? Eu ia ser rei do
quilombo (risos).
Entrevistadoras
: E a atividade de lazer quando vocês saem do trabalho?
— C.D.O.:
É, geralmente, [tem] arremesso de copo (risos). Arremesso de copo, um
churrasco, um futebol. Tinha um time aqui, mas sempre joga a cada quinze dias. Aí, de
domingo sempre eu vou para atividade. Um joguinho também, com os meninos também.
Entrevistadoras
: Mais com a família?
— C.D.O.:
É.
Entrevistadoras
: E a relação com os seus filhos, como é? Trabalham, estudam?
— C.D.O.:
Estudam. Entraram na pré-escola. O outro está no sétimo ano. O outro está no
quinto ano. Eles vêm para cá, geralmente, quando a gente faz mutirão de domingo. Eles
gostam de vir aqui. E aí eles também fazem algum trabalho. Hoje mesmo veio uma visita
aqui com a escola. Vai lá conversar com a professora. A professora me liga e fala assim,
“Ah, posso visitar lá”. Ele vem direto, o pequenininho. Ele gosta de trabalhar comigo.
Quando eu estou na rua, de caminhão, ele gosta de trabalhar comigo. E, no domingo, nós
saímos de manhã e voltamos umas quatro horas da tarde. Nós ficamos no campo. Quando
eles não vêm trabalhar comigo aqui no domingo, porque eles gostam de vir aqui, eles ficam
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