Zélia Lopes da Silva (Org.)
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estudava de manhã e trabalhava à tarde. Quando a gente veio para Assis, a gente veio
trabalhar numa cerâmica. Passei a estudar à noite, mas mesmo assim tinha uma dificuldade
muito grande porque tinha que fazer o serviço e ir para escola. Então, o aproveitamento
na escola nunca era muito bom. Também porque o trabalho de cerâmica é um trabalho
muito pesado. Ali na Maria Isabel, na Prudenciana, tinha bastante cerâmica. Trabalho que
machucava a mão porque o tijolo entrava dentro do forno quente, né. As mãos ficavam
machucadas porque tinha que pegar no lacre que comia tudo aqui. E trabalhando, você
chega na escola cansado e o aproveitamento era menor. A gente estudava numa escola
que nem era acabada. Era JoséAugusto, tudo aberto. Você ia sentar na escola para estudar
tinha uns blocos que estavam tudo fora do lugar. Era bem precária em 89, 87. A escola
não tinha alambrado. O pessoal tinha um índice muito grande de faltas. Todo mundo tinha
acesso à escola. O bairro era bem violento. Então, o pessoal invadia a escola para brigar.
Tinha muito quebra-quebra naquela época. Tinha uns problemas de gangue, também.
Nossa! Era bem complicado. Estudei da quinta à oitava série lá. Consegui concluir com
dificuldade, mas concluí. Depois, eu fui para a escola Creofanica [Cleofânia] que era mais
próxima da minha casa. E também mudei de trabalho.
Entrevistadoras
: Aí você foi trabalhar com o quê?
— C.D.O.:
Eu fui trabalhar numa metalúrgica. Trabalhando um tempo nessa metalúrgica,
consegui também estudar, apesar do problema no horário. Eram três horários que a
empresa fazia. Eram turnos. Era das duas às dez, das dez às onze, né e das onze às seis
da manhã. Então, eu tive que trocar e me adaptar à empresa. Aí eu parei de estudar nesse
processo. Aí eu preferi o trabalho ao estudo, porque não tinha como ninguém manter a
gente, né.
Entrevistadoras
: Você ainda morava com a sua família? Com sua mãe?
— C.D.O.:
Morava. Eu falei para ela que eu preferia, porque o problema era a renda né?
Estudar, depois eu vejo o que eu faço (risos).
Entrevistadoras
: Você morava com os seus irmãos? Como era essa relação?
— C.D.O.:
Então, eram cinco homens e três mulheres. Então, só tinha um irmão mais velho
e quando ele começou a ajudar, ele acabou casando. Depois, entrou aquele processo de
novo. Então, ficamos em cinco homens e três mulheres (risos). As meninas trabalhavam de
doméstica fora também. Ficavam só nós cinco em casa. E aí a gente fazia esse processo.
Trabalhava e aí o dinheiro era sempre na mão da nossa mãe. Ela trabalhava e o dinheiro
ficava para ela. Uns trabalhavam no corte de cana. Era a atividade que tinha. Corte de
cana, movimentação de mercadoria que era o trabalho de saquê. Era tudo trabalho braçal,
de desgaste físico. E eu também trabalhava numa metalúrgica, na fundição de bateria.
Quando se trabalha com fundição de bateria tem o problema do chumbo no sangue.
Entrevistadoras
: Apesar dos cuidados, tinha um pouco de contaminação?
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