Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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nove meses. Aí, não tinha feito nem três dias que eu estava trabalhando, me mandaram
vir para a usina de lixo. Eu não conhecia nada também, mandaram para cá. Aí, eu cheguei
aqui na Cooperativa, já estava tudo montado. Encontrei o pessoal aqui. Fiquei acho que
quatro dias trabalhando na Prefeitura e saí fora e vim para a Cooperativa. O projeto da
Cooperativa que eu conheço é um projeto muito lindo. Eu sinto orgulho de hoje ser catador.
Até meus irmãos que é melhor que eu fala: “Oh! Você vai mexer com lixo”. Eu falo: “Não
é lixo gente. O lixo mais rico do Brasil é o nosso. Entendeu? Eu não mexo com lixo, eu
mexo com reciclagem”. Hoje, como eu conheço, o Brasil inteiro está conhecido. Porque no
tempo que eu era criança, vinha o catador e a gente falava que era mendigo: o homem do
saco. Então, a gente tinha medo. Hoje, eu tenho maior orgulho. Eu falo com minha menina
na escola, converso com ela dentro de casa. Ela fala para mim: “Aí, pai meus coleguinhas
falam que você é catador de lixo”. Eu falo: “Não é filha, explica para eles que é material
reciclável, lixo quem pega é o lixeiro”. Até a criançada da escola vai lá. De vez em quando,
eu levo folha de negócio de reciclagem, que a gente tem aqui uns folhetinhos, aí, eu levo
para ela levar na escola e entregar para a professora. A professora faz trabalho com vocês.
Aí, ela leva e mostra. Aí, esses dias um monte de criança juntou um monte de material e
levou até em casa, né. Aí, fizeram um trabalhinho entre eles mesmos.
Entrevistadoras:
Essa segunda vez que você veio para cá, tinha a intenção de ficar, ou
não?
—A.L.M.:
Eu fiquei meio naquela dúvida, né. No começo, nos seis meses mais ou menos,
eu falei: “Isso aqui não vai dar em nada”.
Entrevistadoras:
Você tinha essa percepção da atividade de catação?
— A.L.M.:
Tinha esse pensamento. Até porque eu não fui catador igual eles, de fuçar no
lixão. Catador, para mim, é com eu falei, era mendigo. Então, a gente não tinha essa visão,
como hoje eu tenho, graças a Deus. Hoje eu tenho orgulho do que eu faço. Mas, antes,
quando eu entrei aqui que me mandaram para a rua eu tinha vergonha. Batendo nas casas
dos outros pedindo reciclagem. Hoje não. Hoje eu tenho maior orgulho. Aí, fui conhecendo
o projeto, a Cooperativa; a gente foi acordando, você vendo, entendeu? Graças a Deus,
hoje para mim está ótimo.
Entrevistadores:
Você acha que com esse trabalho da Cooperativa vocês passaram a ser
mais valorizados pela população? E vocês mesmos passaram a se valorizar mais?
— A.L.M.:
Mas claro, com certeza. Só saio daqui, no dia em que eu morrer. (rs)
Entrevistadoras:
E quais são os benefícios que a Cooperativa trouxe para sua vida?
— A.L.M.:
Ah, melhorou bastante, viu. Graças a Deus, hoje eu tenho minhas coisinhas.
Graças a Deus, consegui comprar um carrinho velho. É velho, mas é meu, está pago, né.
Trabalhando, fui guardando um pouquinho e a gente conseguiu. Graças a Deus. Minha
esposa me ajudou também. Graças a Deus, melhorou cem por cento.
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