Zélia Lopes da Silva (Org.)
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De travar assim, que teve pessoas de pegar eu no colo e tirar eu pra fora da carga, a ponto
de cair de lá de cima e se arrebentar lá embaixo.
Entrevistadoras:
Dependência só do cigarro.
— A.J.T.:
É. Eu estou querendo parar, né? Fazer um tratamento nos dentes, que eu tenho
vergonha dos meus dentes. Tenho vergonha do meu rosto. Tenho vergonha do meu corpo.
Verdade! Se eu pudesse fazer uma plástica no corpo inteiro eu fazia. Só pra ficar bonito.
Verdade! Engordar também que eu estou muito magro. Eu agora não sei por que, tá
doendo muito meu estômago. Estou que nem aquelas modelo, que coloca bagulho escova
de dente na goela pra vomitar. Eu estou desse jeito. Quando eu vejo que tá doendo meu
estômago eu vou ao banheiro e forço para vomitar. É por isso que eu estou magro assim.
Não é por que eu não como, eu como pra caramba, só que meu estômago não aceita.
Entrevistadoras:
E na época da escola você falou que foi até a quarta série.
—A.J.T.:
É, até a quarta série. Eu saí por causa de mudança, né? Mudava direto. Aí daqui
eu fui para Bauru. Estudei nem dois meses em Bauru. Não tive tempo assim de estudar. É
mais roça, né? Café. Trabalhava mais na roça, então não tinha tempo de estudar. Aí, de uns
tempos para cá fiz supletivo. Passei, mais só que eu fiz aceleração, né? Estava fazendo a
quinta, sexta, sétima. Era bom. Aí, depois não sei o que aconteceu, não teve mais. Estudei
aqui também. Carolina, a mineirinha, ela me deu um violão novo e um radinho que tem
aqui. Ela mora em Minas. Ela me adora.
Entrevistadoras:
Você contou que se encontrou comAna Maria e começou a frequentar as
reuniões. Mas, você veio para cá com a ideia de ficar? Quando você começou a frequentar
as reuniões tinha ideia de ficar na Cooperativa?
— A.J.T.:
Ahh, eu já passei barras aqui. De receber pagamento de 50 reais por mês, né?
Duas vezes. 25 mais 25. Eu passei o pão que o diabo amassou aqui.
Entrevistadoras:
Você quis ficar mesmo aqui?
—A.J.T.:
Não, eu quis ficar e estou até hoje e não saio daqui por nada. Só saio se mandar
eu embora. Mesmo assim, não manda que eu já fiz muito aqui, né? Carregar caminhão.
Você não viu esse senhor que veio aqui, esse que é o que foi da diretoria. O Seu Osvaldo.
Eu sou o braço direito dele, sou o braço direito do Claudinei, entendeu? É uma pessoa
assim de confiança, uma pessoa tipo assim, que a diretoria confia. Você tem que mostrar
serviço e mostrar para pessoa que a gente merece. E eu carrego caminhão, faço de tudo.
Viajo com ele pra fora, entendeu? Tudo aqui na usina, tudo era eu que fazia: a pesagem
de caminhão, descarregar caminhão, caminhonete.
Entrevistadoras:
Você fazia catação também na rua?
— A.J.T.:
Catava. Eu comecei catar na coleta seletiva. Aí, catava nas casas, né? Das
casas fui para o caminhão, aí do caminhão fui para usina que é aqui, né? Fui para a usina,
para ir para prensa e estou até hoje na prensa. Já não aguento mais vê prensa na minha
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