Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
103
pensava assim e, também, percebe que as pessoas não tinham essa consciência.
Ao falar da família, sinaliza para os casamentos, términos e separação, também,
de seus filhos. Em razão disso, a relação com os seus filhos é esporádica, muito mais,
segundo entende, por responsabilidade de sua ex-mulher que vive em outra cidade
próxima a Assis, que não se esforça para garantir essa aproximação. Mas, esclarece que
ajuda financeiramente na manutenção dos filhos e, também, não manifesta apreensão
por sua ausência do processo de educação dos mesmos. Em seu relato, os três filhos já
adolescentes são de sua primeira mulher. Há, também, um bebê, recém-nascido, de sua
mulher atual.
Ao ser indagado sobre o que faz para se divertir nos momentos de folga, diz que
gosta muito de música, de gêneros diversos e até pensou em formar um grupo de pagode
na Coocassis, mas “ninguém topou por preconceito”. Relembra que fez parte do coral da
Cooperativa, cantando canções natalinas na Catedral.
Os relatos de Claudineis deixam antever que, embora sua vivência infantil tenha sido
menos tumultuada, as dificuldades foram significativas, sobretudo depois da separação dos
pais. Nesse processo, a mãe resolveu mudar-se para Cândido Mota, na busca de emprego,
já que era chefe da família. Porém, as dificuldades enfrentadas pela família levaram-no a
começar a trabalhar aos 11 anos, colhendo algodão. Nesse período, em Cândido Mota, a
família ficou na região por três anos retornando, posteriormente, para Assis. Novamente,
a mãe (e os demais filhos) enfrenta dificuldades para arranjar emprego. Embora arrimo da
família, esclarece Claudineis que a mãe “não era alfabetizada”, o que agravava as suas
possibilidades de arranjar trabalho, uma vez que sua experiência era o trabalho na roça.
Premida pelas dificuldades, tornou-se catadora. Foi a partir daí que entrou na Cooperativa
e, junto com ela, três filhas; além do próprio Claudineis e (posteriormente) sua mulher que
passaram a integrar a Cooperativa. Essa situação é explicada como a responsável pela
falta de continuidade dos estudos e de emprego, em decorrência de recessão econômica.
Relembra o protagonista que, já casado, era empregado numa Cooperativa em
Tatuí, mas tinha uma jornada de trabalho longa e “pouco ganho”. Diante disso, voltou
com a mulher, grávida, para Assis. Nesse período, foi guarda de rua e, também, nesse
percurso, catava latinha para “aumentar os ganhos”. Como não conseguiu outro emprego
melhor, resolveu ser catador, com estratégia organizacional traçada previamente para
garantir uma coleta mais efetiva. Mas, era uma atividade considerada pelo protagonista
que causava vergonha e, por isso, entregava o produto de seu trabalho em nome da
mãe ou da irmã. Esse processo permitiu integrar-se à Cooperativa, o que se tornou uma
alternativa de intensivo aprendizado e de politização.
A trajetória de André Leme de Moraes é menos turbulenta. Nasceu em Sorocaba.
Começou a trabalhar com seu pai (que era pedreiro), desde criança. Por isso, estudou
1...,96,97,98,99,100,101,102,103,104,105 107,108,109,110,111,112,113,114,115,116,...180