Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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naquela época tinha matinê, tal. Eu nunca peguei na mão da minha filha e falar “Filha,
vamos brincar lá no jardim com a mãe”. Levar ela para brincar, levar ela no parquinho.
Entrava parque, circo, ela pedia, eu não tinha tempo que eu ia trabalhar. Chegava de noite
em casa e não tinha tempo de sair. Quem mais fazia essa parte era meu ex-marido com
ela. E, na minha separação foi muito duro para ela porque ele era mais presente. Ele ia às
reuniões, eu não. Eu quase não participei da vida da minha filha. Hoje ela cobra. Eu tenho
que ficar quieta porque é uma realidade.
Entrevistadoras:
E ela mora com você?
— V.R.C.S.
: Ela mora comigo.
Entrevistadoras:
Mas ela tem contato com o pai?
—V.R.C.S.
: Então, na minha separação, o pai mandava pensão para ela. Eles conversavam
pelo telefone e tal. Eu não sei o que se passa lá entre ele e a ex-mulher dele. Eu sei que
já faz uns 4 meses que ele não manda pensão e também não se comunica mais com ela.
Quer dizer, ela fala “Mãe, é eu e você”. Eu falo: “Filha, não conta com a mãe que a mãe
não tem como ajudar você a fazer uma faculdade. O seu caminho da faculdade é ir prestar
o Enem. Se você não for bem lá minha filha, não conta comigo porque o dinheiro que eu
ganho aqui é para manter a casa”.
Entrevistadoras:
E ela trabalha?
— V.R.C.S.
: Ela trabalha com um advogado.
Entrevistadoras:
Ela começou a trabalhar cedo também?
— V.R.C.S.
: Não, ela começou a trabalhar com uns 17 anos.
Entrevistadoras:
E a casa de vocês é própria, alugada?
— V.R.C.S.
: É aquela casa que eu comprei lá no passado (risos). Casa não, um lote, né.
Entrevistadoras:
Logo depois que você casou?
— V.R.C.S.
: É.
Entrevistadoras:
E você já teve algum problema sério de saúde, que te fez parar de
trabalhar por um período?
— V.R.C.S.
: Tive, eu tive um esporão no meu pé, agora em julho. O ano passado eu fiquei
6 meses afastada porque eu não estava conseguindo andar, com muita dor mesmo. Ia
fazer a coleta seletiva e vinha mancando. Daí, eu fiz um tratamento, depois de 6 meses eu
voltei a trabalhar mas mesmo assim eu ainda estou na fila do SUS para fazer uma cirurgia.
Entrevistadoras:
Faz tempo que você está nessa fila?
— V.R.C.S.
: 1 ano. Quando é para fazer essa cirurgia acho que não tem nem mais nece...
(risos).
Entrevistadoras:
Hoje, o seu dia a dia aqui na Cooperativa é exatamente o quê? Você
vem para cá de manhã?
— V.R.C.S.
: Então, eu venho de manhã para cá. Daí eu tomo café junto com os meus
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