Zélia Lopes da Silva (Org.)
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tem que trabalhar, né (risos). Minha mãe não era alfabetizada. Naquele tempo casava
muito novo. Ela não frequentou a escola. Ela veio aprender a escrever, a fazer o nome
dela, há pouco tempo.
Entrevistadoras
: Ela trabalhava em quê?
— C.D.O.:
Minha mãe sempre trabalhou na zona rural. Arrancou mandioca e outras
atividades de doméstica, também. Trabalhou muito tempo na casa da família Conti, em
Cândido Mota. Nós moramos e trabalhamos lá, na família Conti. Trabalhou muito tempo lá,
só que a humilhação era muito grande. A mãe deles era muito ruim.
Entrevistadoras
: Aí ela saiu?
— C.D.O.:
Aí, depois nós tínhamos casado. Ela ficou, a bem dizer, quase sem renda. Aí
também começou a fazer catação. Conheci a Cooperativa através dela. Em 2001, minha
mãe, começou o grupo de formação. Ela foi uma das primeiras operárias a participar da
Cooperativa.
Entrevistadoras
: E, hoje, ela não está mais aqui?
— C.D.O.:
Não, ela não está. Como ela era uma pessoa sistemática, ia (no caminhão)
buscar o material lá em casa, para carregar o caminhão e acompanhar o preço. Então, uma
discussão que ela teve com Roberto Carlos, uma vez, ela não voltou mais na Cooperativa.
Ela já estava num processo de parar né, porque ela começou a catar logo. Depois começou
a minha cunhada, a minha irmã, todo mundo a catar. E eu perguntava para ela: “O mãe,
onde a senhora vai todo dia, sábado, domingo?”; “Eu tenho uma reunião na Cooperativa.
Tem um pessoal da universidade, então eu participo, né”. Então, ela gostava de ir para
lá, porque tinha reunião. As reuniões começavam geralmente, uma e ia até as cinco, seis
horas da tarde. Era para fazer o processo de formação. Fica esperto com essa turma
aí. Esse pessoal, quando aproxima do outro, alguma coisa de errado. Ninguém ajuda
ninguém na vida, viu. Falava para ela, sempre.
Entrevistadoras
: Você tinha esse pensamento?
— C.D.O.:
Eu sempre falava para ela, ainda mais porque psicólogo sempre é quem demite,
viu. Nas empresas eles contratam, eles montam o perfil da empresa e dos funcionários.
Entrevistadoras
: Quantos irmãos seus chegaram a trabalhar aqui na Cooperativa? Todos
conheceram a Cooperativa pela sua mãe?
— C.D.O.:
Olha, trabalham três irmãs minhas, eu e minha cunhada, minha mulher (risos)...
Entrevistadoras
: E a sua mãe ela conheceu esse grupo, por outras pessoas quando
estava na formação?
— C.D.O.:
É, no boca a boca, né. Ela catava e um foi contando para o outro. Ela gostava
muito de participar das reuniões da Cooperativa.
Entrevistadoras
: E ninguém de vocês tinha tido a experiência com catação?
— C.D.O.:
O meu irmão tentou montar uma Cooperativa de saqueiro, né. O nome da
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