Zélia Lopes da Silva (Org.)
128
mínimo, depois foi para um salário e meio. Naquela época, a gente tinha uns quarenta.
Começou a remanejar funcionários da Prefeitura. Daí fomos ficando.....
Entrevistadoras
: Foram conquistando certo espaço, não?
— C.D.O.:
E ai a gente continuou com o barracão, lá em cima, da Cooperativa. E logo
depois, teve o processo de eleição e aí me convidaram para fazer parte, como diretor vogal,
na Cooperativa, com mandato de dois anos. O primeiro mandato de dois anos. Quem entra
é só um mandato temporário. Aí eu fiz parte da segunda diretoria da Cooperativa.
Entrevistadoras
: Mas, o que você vê de contribuição que a Cooperativa trouxe para sua
vida, tanto econômica, quanto a vida mesmo?
— C.D.O.:
Eu vivenciei muita coisa. Participei de muita coisa, né. Acho que esse processo
que a sociedade faz de excluir a gente, demora muito para você recuperar a alta-estima.
E a Cooperativa entrou nesse processo. A gente foi se lapidando, a gente foi descobrindo
coisa. Eu mesmo fui descobrindo muitas coisas que eu era capaz de fazer. De repente, a
gente se sente muito incapaz, muitas vezes, mas, ninguémmostra as condições que a gente
tem para aparecer num debate, numa discussão. Ela possibilitou tudo isso, né. Então, eu
passei a me redescobrir como pessoa. Como você sabe, geralmente todos têm seu lugar
na sociedade, em qualquer profissão ou qualquer ocupação. Para isso, a universidade foi
importante. A participação da Unesp, porque ela mostrou que a gente era capaz de muita
coisa. E eu pensei que a era a oportunidade de trabalhar, reter renda e depois eu me
promover e, depois, procurar outra coisa. Não, mas provou que aqui dentro da Cooperativa
você tem chance de se promover, né. Eu entrei aqui, eu vinha muito pouco. Não debatia.
Tinha dificuldade de encarar público, me escondendo, né. Hoje não, qualquer mesa de
debate eu discuto. Eu vou representar a Cooperativa em vários lugares. Represento o
movimento em vários lugares. Então, eu descobri que dentro dessa ocupação de catador
tem um campo de trabalho que tem um potencial muito grande para ser explorado. Isso
é, sempre que eu passo para o pessoal acho que o maior ganho que a gente teve dentro
da Cooperativa não foi um ganho financeiro. Teve financeiro, mas teve um ganho muito
grande em promoção das pessoas. A gente não tinha acesso a crédito, não tinha acesso
a emprego. Hoje em dia, você tem que ter um nome limpo. Como é que uma pessoa vai
limpar o nome, desempregada? Então, a Cooperativa nunca exigiu isso de ninguém, né.
Se você aceita pensar bem no processo de regresso do sistema prisional. Como é que a
pessoa vai ter atestado de bons antecedentes? Não tem. Geralmente, a gente acolheu
com muito preconceito os ex-detentos. Eu tinha preconceito com o pessoal do GLS, trans,
homossexuais não é isso? Pulverizou, porque a gente sabe que a luta nossa é a mesma.
Então, é construir um espaço dentro da sociedade. Esse preconceito caiu por terra. Os
outros movimentos sociais que a gente respeita: o movimento sem terra, o movimento
pessoal situação de rua. Então, você começa a conhecer e tirar essa máscara que a
1...,121,122,123,124,125,126,127,128,129,130 132,133,134,135,136,137,138,139,140,141,...180