Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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— C.D.O.:
Tinha. Você tinha que fazer exame a cada três meses para medir o índice alto
de chumbo. Tinha índice alto, devia se afastar durante três meses, até abaixar. É bem
complicado. E aí logo depois, também, eu comecei a namorar. Namorei um ano, noivei um,
depois acabei me enrolando, até hoje.
Entrevistadoras
: Até hoje está com a mesma pessoa?
— C.D.O.:
Logo depois de um ano, eu também perdi o serviço e logo no ano veio o primeiro
filho. Pensei em planejar a família, mas não queria ter um filho logo.
Entrevistadoras
: Não foi planejado esse primeiro filho?
—C.D.O.:
A minha mulher sempre falava que se sentia muito sozinha. Não foi uma decisão
consensual. Achei que ela foi meio egoísta (risos). Naquela época (risos), quando ela ficou
grávida, faltando uns três meses para ele nascer, fiquei desempregado.
Entrevistadoras
: Da metalúrgica que você trabalhava?
— C.D.O.:
Aí foi um sufoco. Arrumava só bico de servente e aquela barriga crescendo
e a casa de aluguel. Pagava cento e setenta e cinco de aluguel. Tinha vez que a mulher
acumulava o aluguel. Aí eu pegava dinheiro emprestado da mulher que eu alugava (risos).
Pegava dinheiro para comprar gás, nossa (risos), meu Deus do céu. Como a empresa
estava num processo de falência, ela não acertou com os funcionários. Aí, antes do meu
filho nascer foi liberado o seguro desemprego meu né. E a gente entrou com uma ação
contra, aí liberam em juízo o fundo de garantia e o seguro desemprego e a papelada para
mim dá entrada no seguro desemprego. Aí, conseguiu dá entrada no seguro desemprego e
esse dinheiro aí, consegui comprar berço, comprar umas coisinhas, me organizar. Aí, com
esse dinheiro, também, a gente construiu, eu e meus irmão, lá no quintal da minha mãe,
que é grande. Tinha dois cômodos no fundo. Aí eu peguei e resolvi fazer um banheiro e um
quartinho e ir para lá, para correr do aluguel.
Entrevistadoras
: E mais uma criança, ia vir mais gastos, não?
— C.D.O.:
Fui para o fundo da casa da minha mãe. Ela me cedeu um pedaço e eu ergui
uma parede. Separei e fiz um banheiro e caí para dentro. Só no contrapiso mesmo, sem
reboque, sem nada.
Entrevistadoras
: E o seu pai, depois da separação, continuou tendo contato, ou não?
—C.D.O.:
Eu tive contato, mas logo depois ele faleceu e aí minha mãe não ficou recebendo
a pensão dele. Teve uma complicação no INPS e ela veio receber agora, depois de 2007.
Depois de mais de vinte anos ela veio receber. E agora ela tem uma verba do tempo que
eu era menor, eu e ela de menor e minha irmã era menor. A gente tem mais de setenta
mil para receber desse período que ficou, mas não corrige o que a gente passou. A gente
teve que começar a trabalhar cedo. Teve que passar por dificuldade. Minha irmã, com
treze anos, teve que começar a trabalhar de empregada. Então, teve problema de escola,
acompanhamento não é o mesmo porque, geralmente, entre estudar e passar fome, então
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