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“equacionados”, o folclore tinha característica mais cientifica do que nacional.
Estabelecendo, portanto, um traço comum às experiências na Alemanha, na Itália e no
Brasil, onde a cultura popular “é o elemento simbólico que permite aos intelectuais
tomar consciência e expressar a situação periférica que seus países vivenciam”
(ORTIZ, 1992, p. 66-67). Renato Ortiz aponta, portanto, que o popular seria a
manifestação das tradições, uma cultura de raiz que seria responsável pela
manutenção de uma identidade nacional.
No plano internacional, em 1997, o historiador Eric Hobsbawm, integrante da
“New Left” inglesa, organiza um livro com a intenção de definir melhor a palavra
tradição
.
Na base desse debate está a questão “antiguizante” e seus significados,
recorrentemente assinalada pelos diversos protagonistas e pesquisadores da “cultura
popular”. Para o autor algumas “tradições” que parecem antigas são bastante recentes
ou são inventadas. O termo “tradição inventada” é utilizado num sentido amplo, que
inclui as tradições realmente inventadas e formalmente institucionalizadas, quanto as
que surgem de maneira difícil de localizar e delimitar no tempo. O objetivo do autor
não é estudar a sobrevivência das tradições, mas como elas surgiram e se
estabeleceram (HOBSBAWM, 1997, p. 9-10). Hobsbawm define a tradição como um
conjunto de práticas fixas de natureza ritual ou simbólica, incluindo novos valores, a
partir da repetição, mantendo assim, uma continuidade em relação ao passado
histórico. A função da tradição é de mudança ou resistência do precedente ou dar
continuidade histórica para um povo (HOBSBAWM, 1997, p. 9-10). Segundo o autor,
as tradições são inventadas em contextos de grandes transformações; também
destaca que as novas tradições utilizam elementos das antigas para fins originais,
como o nacionalismo, ao inserir novos símbolos, como bandeiras e brasões
(HOBSBAWM, 1997, p. 12-15).
Essa questão é retomada por Edward Palmer Thompson, que publicou no ano
de 1998 um estudo com viés marxista sobre a cultura popular no século XVIII,
intitulado “Costumes em Comum
.
Estudos sobre a Cultura Popular Tradicional”
(contendo antigos trabalhos sobre cultura popular, com o acréscimo de alguns artigos
novos) no qual argumenta que a cultura popular esteve em plena atividade no século
XVIII, em oposição à ideia de que esta tendia a desaparecer. No capítulo oito,
Thompson apresenta uma revisão do artigo publicado em 1972 na Inglaterra, intitulado
“Rough Music: Le Charivari anglais”, no qual tece uma análise sobre a rough music,
uma prática cultural, que – entre o século XVII e XIX, mas poderia ter origem medieval
– segundo o autor tinha como função o julgamento e a desmoralização pública de
indivíduos que desrespeitassem as normas camponesas, pautadas em valores