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Para Thompson, tanto o dialeto como os costumes podem se reproduzir e
persistir por muito tempo em uma sociedade industrial, mas com a aparição de novos
elementos (alfabetização), podem desgastar as antigas culturas, deixando resíduos
apenas para os antiquários. Cabe aos historiadores analisar essas culturas no seu
contexto, analisando o período, o lugar na qual está inserida e os grupos sociais e
econômicos (THOMPSON, 1998, p. 395).
Thompson aponta que ao contrário do que se supunha a cultura popular não foi
extinta com as transformações locais, também analisa que a cultura plebeia interagia e
negociava com a cultura dos patrícios, mas estas não se confundiam; o autor defende
que a cultura popular era um campo de conflitos e mudanças, todavia o termo cultura
popular só ganha significado quando se arraiga num contexto histórico.
As definições e metodologias a respeito do conceito cultura popular, expostas
no texto até o momento, pretendem estabelecer um campo de discussões sobre esta
temática. No entanto, o historiador francês Roger Chartier, opondo-se às
interpretações marxistas, entra nesse debate ferrenho para desconstruir o conceito de
cultura popular. O autor não entende a cultura dividida em um esquema binário de
classe. Para ele:
A cultura popular é uma categoria erudita [...] Ela pretende somente
relembrar que os debates em torno da própria definição de cultura
popular foram (e são) travadas a propósito de um conceito que quer
delimitar, caracterizar e nomear práticas que nunca são designadas
pelos seus atores como pertencendo à “cultura popular” (CHARTIER,
1995, p. 179).
O autor discorda que se possa dividir o universo cultural em termos de classe
social. Para ele todas as manifestações “populares” são compostas por negociações e
conflitos com a participação da classe dominante. Nesse sentido, o autor afirma que:
As formas populares das práticas nunca se desenvolvem num
universo simbólico separado e específico; sua diferença é sempre
construída através das mediações e das dependências que as unem
aos modelos e às normas dominantes (CHARTIER, 1995, p. 189).
Roger Chartier considera não haver prática ou estrutura que não seja
produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os
indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo que é o deles. Para ele, a cultura deve
ser analisada fora do recorte social, ela não se organiza de acordo com divisões
sociais.
Enfim, ao renunciar ao primado tirânico do recorte social para dar
conta dos desvios culturais, a história em seus últimos
desenvolvimentos mostrou, de vez, que é impossível qualificar os