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no modo de impressão, passa a circular entre as camadas com menor poder
aquisitivo. Assim, os mesmos textos que pertenceram à elite passaram a ser
considerados provenientes da cultura popular. É necessário compreender o porquê de
esses textos chegarem até essa camada da população, e mais, quais são as leituras
(recepção) que estes o fazem, para assim, compreender como os mesmo podem ser
diversamente aprendidos e manipulados
11
.
Essa leitura indica o trânsito entre os públicos, pois os livros eram produzidos
para um determinado leitor, pertencente à elite, o qual lhes atribuía uma significação.
Após uma nova impressão e distribuição, com preços acessíveis, outros grupos de
menor poder aquisitivo, fizeram novas apropriações conferindo-lhes outros sentidos.
Portanto, essa prática cultural nem sempre foi popular o que prova que não existe uma
barreira fixa entre o erudito e o popular, mas sim uma dinâmica na cultura. Desta
forma, o conceito “cultura popular” adotado por alguns teóricos se apresenta
inconsistente na medida em que é necessário, na visão de Chartier, mostrar o
movimento de apropriação das práticas culturais e não fixar a cultura em determinado
estrato social.
O autor desloca o debate, ao defender que a história cultural deve ser
entendida como o estudo dos processos com os quais se constrói um sentido, uma
vez que as representações podem ser pensadas como “[...] esquemas intelectuais,
que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-
se inteligível e o espaço ser decifrado” (CHARTIER, 1990, p. 17). Nesse aspecto o
conceito de representações e como proceder na pesquisa histórica, assume papel
estratégico para Roger Chartier que afirma que é necessário identificar todos os
símbolos e considerar como simbólicos todos os signos, atos ou objetos, todas as
figuras intelectuais ou representações coletivas, que consolidam a organização ao
mundo social ou natural. Assim, a formas simbólicas seriam todas as categorias e
todos os processos que constroem o mundo como representação. O conceito de
símbolo é a extensão máxima do conceito de representação (CHARTIER, 1990, p. 19-
23). Para Chartier:
Trabalhando assim sobre as representações que os grupos modelam
deles próprios ou dos outros, afastando-se, portanto, de uma
dependência demasiada estrita relativamente à história social
entendida no sentido clássico, a história cultural pode regressar
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É o caso da fórmula editorial conhecida sob o termo genérico de Biliothéque bleu, proposta
aos leitores mais humildes desde o fim do século XVI pelos editores de Troyes. CHARTIER,
Roger.
O Mundo Como Representação
. Tradução de Andréa Daher e Zenir Campos Reis.
Revista das Revistas,
Estudos Avançados
, São Paulo, v.5, n.11, p. 173-191 jan./abr. 1991,
p.181.