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Maria Elisa Cevasco observa que os estudos culturais encontram uma
ascensão nas ciências humanas a partir da segunda metade do século XX, e se
constituiu primeiramente na Inglaterra. A autora esclarece que na década de 1950,
Raymond Williams, um dos precursores nesses estudos, percebeu a necessidade de
mudanças na área devido às transformações no modo de produção, expansão do
ensino superior e dos meios de comunicação de massa, exigindo assim, uma nova
configuração de cultura.
Nesse sentido, rejeitava não só o elitismo da alta cultura e da grande tradição,
mas, também o marxismo ortodoxo, considerado por ele como reducionista e
entendido como a determinação forte pela economia (CEVASCO, 2003, p. 61).
A alta literatura elitista pensava a cultura como posse de uma minoria, que
“deveria preservar os valores humanos e difundi-los por meio da educação, como
forma de minorar os males da civilização moderna” (CEVASCO, 2003, p. 19). Segundo
Cevasco, estas são as posições que Williams teve que enfrentar para projetar uma
tradição de cultura e sociedade, a partir do que ele chamou de
cultura em comum
.
A criação de significados e valores é comum a todos, e suas
realizações são parte de uma herança comum a todos. Em oposição
à ideia de uma minoria que decide o que é cultura e depois a difunde
entre “as massas”, Williams propõe a comunidade de cultura em que
a questão central é facilitar o acesso de todos ao conhecimento e aos
meios de produção cultural. A ideia de uma cultura em comum é
apresentada como uma crítica e uma alternativa à cultura dividida e
fragmentada que vivemos. Trata-se de uma concepção baseada não
no principio burguês de relações sociais radicadas na supremacia do
indivíduo, mas no princípio alternativo da solidariedade que Williams
identifica com a classe trabalhadora (CEVASCO, 2003, p. 19).
A obra de Raymond Williams pretende superar as dicotomias estruturantes da
posição da tradição de cultura e sociedade. Para Williams a cultura é produzida de
forma muito mais extensa do que querem fazer crer os defensores da cultura de
minoria. Sendo assim, Raymond Williams propõe pensar a cultura inserida na
sociedade e não apartada dela. Nesse sentido, todos seriam produtores de cultura,
não apenas consumidores de uma versão escolhida pela alta cultura (CEVASCO,
2003, p. 54). A luta pela cultura comum resultaria na luta por uma sociedade em
comum, sem divisões de classes, e sem desigualdades (CEVASCO, 2003, p. 56).
Parte importante dessa iniciativa era pensar que uma nova sociedade
só podia ser criada de baixo para cima, e a educação era a ocasião
de troca entre intelectuais e trabalhadores, cada um educando o
outro, na medida em que os professores tinham de se esforçar para
explicar suas disciplinas em termos que fossem entendidos por