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utilmente ao social, já que faz incidir a sua atenção sobre as
estratégias que determinam posições e relações e que atribuem a
cada classe, grupo ou meio um <<ser apreendido>> constitutivo de
sua identidade (CHARTIER, 1990, p. 23).
Por outro lado, deve ser entendida como o estudo dos processos de
construção de sentidos para o grupo social. Dessa maneira, é possível compreender
as práticas plurais que constroem o mundo como representação.
Chartier afirma que a percepção do social não causa um discurso neutro, pois
produz estratégias e práticas, com a tendência de impor uma realidade à custa dos
outros. As representações estão inseridas num campo de concorrência e competição
cujos desafios se manifestam em torno de poder e dominação (CHARTIER, 1990, p.
17). Para o autor:
Desta forma, pode pensar-se uma história cultural do social que tome
por objeto a compreensão das formas e dos motivos – ou, por outras
palavras, de representações do mundo social – que, à revelia dos
atores sociais, traduzem as suas posições e interesses objetivamente
confrontados e que, paralelamente, descrevem a sociedade tal como
pensam que ela é, ou gostariam que fosse (CHARTIER, 1990, p. 19).
Para Chartier um autor pode ser lido e entendido quando se leva em
consideração o contexto no qual o seu trabalho foi produzido, por isso pensar,
portanto, os processos de civilização nos possibilitam ir do discurso ao fato,
questionando a ideia de fonte como mero instrumento de mediação e testemunho de
uma realidade e considerando as representações como realidade de múltiplos
sentidos, mesmo porque as representações do mundo social, assim construídas,
embora aspirem à universalidade de um diagnostico fundado na razão, são sempre
determinadas pelos interesses de grupo que as forjam.
Outro autor relevante para essa problemática é Robert Darnton, que em seu
trabalho apresenta algumas divergências do pensamento de Roger Chartier,
principalmente em relação à questão dos símbolos e nos seus métodos utilizados. O
objetivo de Darnton foi percorrer alguns problemas gerais referentes à interpretação
histórica dos símbolos, rituais e textos. Para ele, Chartier analisa o simbolismo como
uma relação de representação direta entre o significante e o significado. Darnton parte
do pressuposto atribuído pelos etnógrafos, que tem uma noção muito diferente de
trocas simbólicas; estes acreditam que os símbolos transmitem múltiplos sentidos, e o
sentido é interpretado de diferentes maneiras por diferentes pessoas (DARNTON,
1990, p. 285-303).
Darnton deixa claro que prefere utilizar o termo símbolo de maneira ampla,
ligado a qualquer ato que transmita um sentido, seja por som, imagem ou gesto. “A
distinção entre simbólico e não-simbólico pode ser tão tênue quanto a diferença entre