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Pode-se notar que na historiografia contemporânea, os historiadores não ficam
presos apenas a uma linha teórica. No entanto, tanto Maria Clara T. Machado, quanto
Ricardo Golovaty trabalham com uma concepção social da cultura. Embora esses
autores utilizem leituras de autores como Roger Chartier e Michel de Certeau, nos dois
trabalhos analisados é possível apontar as fortes influências do marxismo elaborado
pela New Left. Ambos têm como principal aporte teórico Raymond Williams e
produzem uma análise dessas práticas culturais como meio de contestação dos
dominados contra os dominantes.
Segundo Barros, isso é possível devido a desconstrução da metáfora
base/estrutura, que provocava um padrão linear de determinismo. Para o autor, ao
trazer a cultura para o primeiro plano das análises marxistas, conectando-os com a
política e a história social, permite-se uma rediscussão do conceito de “classe social”
que passou a ser entendida como uma categoria cultural, não apenas econômica
(BARROS, 2010, p. 31).
Na segunda vertente analisada, nota-se um interesse em compreender as
permanências e transformações ocorridas nessas práticas e representações culturais
em decorrência das mudanças sociais e econômicas no local onde a festa está
inserida, e a relação entre essas transformações e os devotos. No entanto, os autores
aproximam-se mais dos paradigmas defendidos por Roger Chartier e Michel de
Certeau, compreendendo a “cultura como representação”.
A dissertação de mestrado defendida por João Venâncio Machado de Ourofino
em 2009, intitulada “São Braz de Minas: A migração, as transformações locais e o
imaginário religioso” pretendeu um olhar sobre a festa da Folia de Reis em São Braz
de Minas e a devoção da comunidade local. Ourofino analisou as questões culturais
voltadas para a as estratégias de manutenção e permanência das Folias de Reis. O
autor aponta que as alterações no mundo rural ocasionaram dificuldades para
manutenção dos festejos e formação de novos foliões, devido à migração, a presença
das igrejas evangélicas e o desinteresse dos jovens. Sendo assim, o objetivo deste
trabalho foi observar os modos de usar, de elaborar representações, de assimilar
elementos culturais e religiosos, observando como eles são ressignificados ou
transformados, ou até mesmo abandonados.
Outro trabalho analisado, que se aproxima da vertente da “cultura como
representação”, refere-se aos espaços da festa da Folia de Reis. A dissertação de
mestrado de Jorge Luiz Dias Pinto, intitulada “Os espaços da Folia de Reis em
Maringá – PR: O grupo, Unidos com Fé” defendida na Universidade Estadual de
Maringá, em 2010, traçou uma análise da festa no seu espaço tradicional, no qual
mantém seus costumes, ao participar da jornada que acontece do dia 25 de dezembro