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Alargando a discussão, o historiador Raphael Samuel, analisa que para o
historiador os temas mudaram com a virada historicista na cultura britânica e, também,
pelo crescente desencantamento com a promessa do modernismo, uma versão que
pode ser datada para o final dos aos 1960. As imagens passaram a ser escolhidas
pelos historiadores, não por exigência da forma das coisas a vir, ou como
exemplificação daquelas unidades maiores que transcendem a simples divisão
temporal, mas por sua aura de passado. Para Samuel:
Quando os historiadores, pela primeira vez se voltaram para as fotos
antigas, esse era um modo de modernizar o tema, de trazer e de
diminuir a distância entre o passado e o presente [...] Era uma
maneira de ver a sociedade do XIX com os olhos do XX, ou, como um
historiador da fotografia ponderara, ver que “o então pode também
ser o agora” (SAMUEL, 1997, p. 54).
Samuel argumenta que na ausência de um método crítico, mesmo rudimentar,
uma velha foto é sujeita apenas a ser usada como uma transparência, mostrando a
história “como foi”. Se o objetivo do pesquisador é construir novas narrativas ou
perseguir problemáticas diferentes, ele deve tomar uma distância crítica. O autor
critica os historiadores que tomam as fotos como verdade imediata e as tratam como
reflexos transparentes do fato. “Nós nem sempre seguimos as regras elementares de
nossa profissão, tais como perguntar o nome do fotógrafo, as circunstâncias nas quais
a foto foi tirada ou sua data” (SAMUEL, 1997, p.60-61).
Embora existam diferentes abordagens teóricas que trabalham com fotografia,
os aportes metodológicos propostos por Raphael Samuel e Boris Kossoy ressaltam
alguns cuidados acerca do uso da fotografia no trabalho do historiador. Nesse sentido,
é evidente que deve existir um conhecimento prévio sobre o assunto da fotografia,
assim como o que está ausente na mesma. Cabe ao historiador conhecer sobre o
autor da fotografia e, também, como pesquisador, estabelecer um distanciamento
crítico dessa fonte.
É relevante destacar que o grupo abordado tem sua própria leitura para
códigos que estão presentes comumente em quase todas as manifestações de Folia
de Reis do Brasil – por exemplo, a bandeira – o que a torna singular. A partir da
análise das fontes, será possível compreender as permanências e transformações
ocorridas nas práticas e representações culturais da Folia de Reis abordada na
pesquisa, de acordo com o aporte teórico de Roger Chartier. Sendo assim, a partir
dessas leituras, é possível concluir que não é possível enxergar a cultura como
pertencente a determinado grupo ou objeto. A cultura deve ser pensada no plural,