A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 150

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Sendo assim, com o predomínio das Ciências Sociais, as discussões sobre os
significados das práticas culturais ficam para segundo plano e ganham terreno
“trabalhos preocupados com a transformação do Brasil em uma moderna sociedade
de classes e com a busca das razões econômicas da reprodução das desigualdades
sociais” (ABREU; SOIHET, 2003, p. 88).
Essas discussões sobre a
“cultura popular”
, assim como sobre os rituais e
formas simbólicas, aparecem nos textos que abordam as Folias de Reis, festejo que
se inscreve no acirrado debate sobre a cultura popular como campo específico de
reflexão.
De maneira resumida os trabalhos (teses e dissertações) produzidos por
historiadores sobre esta festa se dividem em duas grandes vertentes: uma primeira
com viés marxista e uma segunda que trabalha com a cultura como representação, a
partir dos conceitos de Roger Chartier.
A primeira vertente são produções que podem ser inseridas na chamada
“história social da cultura”, que prioriza como o próprio nome já diz “o social”, as
pessoas, que ao festejar passam a existir socialmente, que passam a ser vistas e
ocupam um lugar na sociedade. Estes trabalhos preocupam-se com a análise da
cultura popular, vista como um modo de pensar, agir e sentir, mas também, como um
rico campo de conflitos sociais.
Seguindo essa vertente, a autora Maria Clara T. Machado, na tese de
doutorado “Cultura popular e desenvolvimento em Minas Gerais: Caminhos cruzados
de um mesmo tempo (1950-1985)”, defendida na USP em 1998, traçou uma análise
da cultura popular produzida e reelaborada na região do Alto Paranaíba – MG, entre
as décadas de 1950 e 1980, objetivando notar as mudanças ocorridas nas práticas
culturais e religiosas em decorrência do desenvolvimento social e econômico dessa
região.
Na mesma concepção teórica de Maria Clara T. Machado, a dissertação de
mestrado de Ricardo Vidal Golovaty intitulada “Cultura popular: saberes e práticas de
intelectuais, imprensa e devotos de Santos Reis – 1945-2002”, defendida na
Universidade Federal de Uberlândia, em 2005, descreve três diferentes olhares sobre
a cultura popular. Os saberes práticos de intelectuais, acadêmicos e folcloristas, das
décadas de 1940 e 1950; Os saberes que jornalistas têm quando buscam recriar uma
compreensão da Folia de Reis em Uberlândia, dentro da ideia de identidade cultural
local; Os saberes dos devotos e foliões de Santos Reis. O eixo central da pesquisa é
analisar o modo pelo qual a cultura popular foi e é pensada, a partir de olhares
externos e internos sob a mesma manifestação popular.
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