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um pestanejo e uma piscadela, mas é fundamental para entender a comunicação e
interpretar a cultura” (DARNTON, 1990, p. 289). Sendo assim, os historiadores teriam
a ganhar se pensarem nos símbolos como polissêmicos, fluídos e complexos.
Para complementar sua ideia, Darnton se apoia nos aportes teóricos-
metodológicos dos antropólogos, que para o autor, às vezes se enredam no
formalismo, mas quando o ímpeto diagramático da forma aos dados etnográficos eles
dão uma lição aos historiadores, pois os símbolos não funcionam apenas devido ao
seu poder metafórico, mas também sua posição dentro de um quadro cultural
(DARNTON, 1990, p. 294). Ao mencionar a interpretação com um final em aberto no
seu trabalho, o autor novamente critica alguns historiadores:
Os historiadores gostam de descobrir e fixar bem as coisas, e não de
revelá-las meio às soltas. Vai contra o feitio da profissão afirmar que
os símbolos podem significar muitas coisas ao mesmo tempo, que
eles podem ocultar e simultaneamente revelar seus sentidos, que os
rituais podem se reunir uns nos outros (DARNTON , 1990, p. 299).
Darnton conclui que para os historiadores chegarem a interpretações rigorosas
em seus trabalhos, estes precisam avançar dos detalhes para o quadro cultural que
confere sentido ao grupo social, reunindo num mesmo trabalho a análise formal e o
material etnográfico (DARNTON, 1990, p. 303).
Os autores já citados passaram a informar as análises de historiadores
brasileiros, inclusive para pensar as diversas práticas culturais dos segmentos
populares.
Na leitura de Martha Abreu e Rachel Soihet é possível perceber um
alinhamento ao marxismo, com forte influência dos trabalhos de Thompson. Segundo
elas, “para uns, a cultura popular equivale ao folclore, entendido como o conjunto das
tradições culturais de um país ou região; para outros, inversamente, o popular
desapareceu na irresistível pressão da cultura de massa” (ABREU; SOIHET, 2003, p.
83). Sendo assim, não é possível decifrar o que é da essência e original do povo e dos
setores populares. As autoras defendem que os folcloristas
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estavam preocupados
em localizar uma identidade cultural que fortalecesse as nações a partir de uma
cultura pura, contra o estrangeirismo que ameaçava as suas especificidades (ABREU;
SOIHET, 2003, p. 84). Abreu e Soihet rebatem que a integração nacional não se
realiza via integração cultural, como pretendiam os folcloristas, mas por meio da
dominação dos estratos dominados.
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Para Martha Abreu hoje em dia o termo folclore é usado com tom pejorativo. ABREU, M. Cultura
popular: um conceito e várias histórias. In: ABREU, M.; SOIHET, R. (Orgs.)
Ensino de História: conceitos,
temáticas e metodologia
. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p. 87‐89.