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sociólogo Florestan Fernandes, a partir do aprendizado e interesse resultante dos
ensinamentos de Roger Bastide, dedicou vários de seus estudos ao folclore, com
contribuições importantes sobre o assunto. O autor critica o modelo que pensa o
folclore como sobrevivência; para ele o povo não seria um lugar de atraso, mas sim de
progresso e os elementos folclóricos ocorrem em ambos os meios e classes sociais.
Na análise do autor, no âmbito das Ciências Sociais, o folclore surge como um campo
ideal de investigação voltado para observação do comportamento humano, dos
valores culturais das coletividades e as condições em que eles se atualizam
(FERNANDES, 2003, p. 11)
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.
Anos depois, a leitura sobre a questão,
entre os cientistas sociais, ainda centra-
se na busca de entendimento de seus sentidos. Renato Ortiz, em “Românticos e
Folcloristas”, transparece a proximidade de sua análise com a traçada por Peter
Burke, ao afirmar que anteriormente existia uma elite que participava da pequena
tradição do povo, mas esta não partilhava de seu universo. De acordo com o autor “[...]
Os homens cultos eram anfíbios, bi-culturais, falavam e escreviam em latim, mas eram
capazes de se expressar no dialeto local, que reconheciam como segunda ou terceira
língua” (ORTIZ, 1992, p. 16). O interesse pela cultura popular surge no momento que
ela tende a desaparecer, sob as influências da Revolução Francesa e Revolução
Industrial, quando começa a se notar intelectualmente uma distância entre o modo de
viver e saberes das elites e do povo. Ainda nas raízes do termo Cultura Popular na
Europa, Ortiz aponta o antiquário e o romântico como precedentes do folclorista
(ORTIZ, 1992, p. 14)
9
.
Segundo Renato Ortiz, a criação do folclore é influenciada pelo positivismo de
Auguste Comte e de Spencer para compreensão dos fenômenos sociais. Os
folcloristas acreditavam na possibilidade de se fundar uma ciência positiva, o que não
se concretizou devido à falta de um método. Portanto, o folclore foi considerado
inferior em termos acadêmicos e o que distinguia os folcloristas de seus antecessores
era o trabalho empírico.
Ortiz aponta para a cultura popular e o folclore como elementos importantes
para a solidificação dos Estados nacionais Em países no Leste e no Sul da Europa
essa colaboração foi decisiva, já em países como França e Inglaterra, já
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Este livro reúne textos do autor sobre folclore, publicados em diferentes períodos, mas com
maior ênfase nas décadas de 1950 e 1960, auge do debate folclorista. FERNANDES,
Florestan.
O folclore em questão
. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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O antiquário possuía um mero interesse de colecionador e não tinha nenhuma predileção
especial pelo povo, “frequentemente ele justifica seu interesse colecionador pelo amor as
antiguidades, ou pelo gosto do bizarro”. Com ideais divergentes do Iluminismo, surgiu o
Romantismo, movimento de “concepção revalorizadora da individualidade e do processo de
criação”, perceptível nas literaturas populares. ORTIZ, Renato.
Românticos e Folcloristas
.
São Paulo: Editora Olho d’água, 1992, p.16