A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 152

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ao dia 6 de janeiro, dia de Santos Reis. Paralelo ao espaço tradicional, a festa se
desenvolve fora da época, participando de eventos, como concursos e programas de
TV. Para o autor, uma das adaptações desse festejo na atualidade foi a sua inserção
em novos espaços, como um meio de sobrevivência dessas práticas culturais.
A principal convergência dos textos de João Venâncio Machado de Ourofino e
Jorge Luiz Dias Pinto é de entender a cultura como representação, identificando o
modo como em diferentes ocasiões e momentos uma prática cultural é criada,
pensada, como é sua recepção, suas transformações e permanências.
A discussão promovida neste texto, teve como intuito compreender o conceito
de
“cultura popular”,
pensado sob paradigmas teóricos distintos. Porém, nosso
trabalho alinha-se à conceituação de
“cultura como representação”
de Roger Chartier,
em concordância com o discurso de que não se pode dividir o universo cultural em
termos de classe social, ou seja, não existe uma barreira fixa entre o erudito e o
popular, mas sim uma dinâmica na cultura. Portanto, não é possível compreender a
“cultura popular”
como algo concreto, único e pertencente a determinado grupo ou
objeto. Sendo assim, podemos notar que múltiplas leituras podem surgir de uma
mesma prática cultural, de acordo com quem a apropria, em que época que apropria e
quais significados recebem.
Nesse sentido, a Folia de Reis da Companhia de Reis Fernandes será
analisada em seu contexto e em suas singularidades, visando o período, a
demarcação espacial, os grupos participantes e as questões sociais e econômicas que
perpassam pelo festejo. Para desenvolver uma leitura sobre as apropriações do grupo,
foram utilizadas fontes orais e imagéticas, com o intuito de apreender as
singularidades dos símbolos e rituais nessa folia, para assim, produzir uma história do
tempo presente.
No encaminhamento da pesquisa, a produção de fontes orais
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foi fundamental.
Nesse sentido, foram coletados depoimentos dos integrantes mais antigos que
participaram de alguma maneira da Folia nos anos compreendidos pela investigação.
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A História Oral consiste no método de pesquisa que utiliza técnica da entrevista e outros
procedimentos articulados entre si, no registro de narrativas da experiência humana. Esse
método foi importante para a produção de fontes, pois as manifestações das Folias de Reis são
detectadas em relatos de experiência dos membros do grupo, abrindo a possibilidade para a
abordagem de novas interpretações de suas realidades sociais. Autores a exemplo de
Alessandro Portelli e Marieta de Moraes Ferreira são referências para o estudo com esse tipo
de fonte. Marieta Ferreira em seu artigo “História Oral, comemorações e ética”, centra-se na
preocupação das sociedades contemporâneas com a perda do sentido do passado e com o
aprofundamento da capacidade de esquecer. (FERREIRA, 1997, p. 157). Já o linguista italiano
Alessandro Portelli, argumenta que as fontes orais, assim como qualquer outra é construída,
portanto passível de influências de subjetividades tanto de quem produz a fonte, quanto de
quem vai interpretá-la (PORTELLI, 1996, p. 59-72). Nesse sentido, não existe “depoimento
errado”, mas sim, uma forma “narrativa do sonho de uma vida pessoal e de uma diferente
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