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Ariès demonstrou que na Europa do século XIX, após o processo de
individualização das sepulturas um novo ritual vai se fortalecendo desde o século XVII:
a visita regular ao túmulo do morto, o culto da lembrança; a família cultua seus mortos
e a sociedade os seus heróis. Com isso há o fortalecimento do espaço cemiterial e do
culto às sepulturas das famílias e dos personagens de destaque da nação, nasce o
herói nacional e diversos monumentos são dedicados a tais personagens ou aos fatos
que eles rememoram e com o passar dos anos esses cultos enraízam-se na
sociedade. Seus monumentos/túmulos tornam-se vazios, porém, memoráveis, e
através deles se comemoram as vitórias e se louvam expressões de patriotismo,
sobretudo no século XIX, no bojo da consolidação das identidades nacionais, e no
século XX, após as grandes guerras.
Contudo o que objetivamos nesse curto trajeto que desenhamos sobre o
cemitério no imaginário ocidental foi mostrar que esse espaço, hoje sagrado, já foi
rechaçado. As manifestações simbólicas que envolvem os sepultamentos são
diversas, sempre o foram, e possuem suas historicidades.
1.1 Cemitério São Pedro em Londrina – PR.
A cidade de Londrina situa-se no norte do estado do Paraná, região que
ganhou destaque nacional e internacional a partir do final da década de 1920, quando
uma expedição de agentes financeiros do Reino Unido mostrou interesse em investir
na porção setentrional paranaense. Com isso, em 1929, iniciou-se o processo de
loteamento e formação de pequenas cidades na área – 515 mil alqueires – adquirida
pela Companhia de Terras Norte do Paraná, empresa de capital inglês e subsidiária da
Paraná Plantations cuja sede localizava-se em Londres.
Com o plano de atrair compradores para suas terras a Companhia de Terras
elaborou propagandas e as divulgou por todo o território nacional e no exterior. Nessas
propagandas, em uma primeira fase, a região é apresentada enquanto “Terra da
Promissão”. Os reclames publicitários divulgavam, principalmente, a fecundidade da
terra e a ausência das temidas formigas saúvas. As fotografias são utilizadas para a
construção de tal representação, sobretudo, aquelas que retratam imponentes
figueiras brancas – árvores tomadas como símbolo da fecundidade da terra – ou
grandes perobas derrubadas. Essas últimas mostravam também que o homem era
destemido e que podia sobrepujar a feroz natureza e que dessa maneira uma
civilização surgia em meio a mata bravia.
As publicações não eram promovidas apenas pela Companhia de Terras, mas
depois de 1934, data em que Londrina é elevada a Município, a prefeitura também