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Para o andamento da pesquisa foi fundamental a proximidade com a
Companhia de Reis Fernandes, o que possibilitou a formulação de uma lista com os
nomes de pessoas que fazem ou fizeram parte do grupo entre os anos de 1964-1994.
Nesse sentido, foi estabelecido um contato inicial explicando o teor da pesquisa e suas
intenções, a fim de marcar entrevistas que foram gravadas em áudio. O núcleo de
entrevistados foi composto por pessoas que participaram de alguma maneira na Folia
de Reis nos anos compreendidos pela pesquisa.
Para o desenvolvimento da pesquisa também foi realizada junto à Companhia
de Reis a coleta de fotografias antigas, e novas durante a peregrinação do grupo, pois
a experiência de contato com a Folia de Reis foi fundamental para os resultados da
investigação. Esses documentos serão analisados juntamente com as fontes orais
visando à reconstituição da memória desse grupo na perspectiva de arguir e de
conseguir respostas às questões levantadas no decurso da pesquisa.
A produção de fotografias das encenações do grupo durante o percurso da
Folia de Reis e sua análise foi importante para o entendimento desses materiais que
trazem a percepção e o olhar do receptor (o pesquisador) e não de seus
protagonistas. Esse material imagético foi essencial por permitir, a partir desse
registro, recuperar cena a cena o desenrolar do ritual, dando assim, condições de
análise mais verticalizada do seu acontecer.
De acordo com o historiador brasileiro Boris Kossoy, por muito tempo seus
pares destinavam tratamento secundário a esses documentos e demonstravam
preconceito quanto a sua utilização, pois prevalecia a hegemonia dos documentos
escritos. Demorou, mas após a ampliação do universo das fontes na pesquisa
histórica, os historiadores passaram a utilizar as fotografias como documentos
históricos portadores de múltiplas significações (KOSSOY, 1989, p. 10-11)
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história coletiva” (PORTELLI, 1993, p. 41-58). Para Portelli, a história oral e as memórias nos
oferecem um campo de possibilidades, compartilhadas, reais ou imaginárias. No entanto, o
pesquisador deve estar ciente da dificuldade na organização deste campo, pois as mentes das
pessoas apresentam diferentes destinos possíveis. Segundo o autor, essa “miríade de
diferenças individuais” nos faz lembrar que a sociedade não é homogênea. Sendo assim, a
subjetividade das fontes orais não surge como uma interferência na objetividade factual do
testemunho, mas abrem para o pesquisador um campo de possibilidades (PORTELLI, 1996, p.
65-66).
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A partir de reflexões metodológicas acerca do uso das fotografias no trabalho histórico,
Kossoy aponta que somente pelo contínuo cruzamento das informações existentes (implícitas e
explícitas) nos caracteres externos e internos do objeto imagem, poderá se determinar com
precisão os componentes do processo que geraram essas fontes históricas. Qualquer que seja
a fotografia a ser submetida ao exame técnico-iconográfico, essa inter-relação entre os
caracteres externos e internos deve ser constantemente realizada (KOSSOY, 1989, p. 58).