Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 144

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O biquíni é uma solução suicida como roupa de banho, porque destrói, varre
todo o suspense, todo o mistério que a nudez precisa ter para significar
alguma coisa. Se não houver mistério, nem suspense, a nudez não significa
nada. [...] A mulher que saí por aí, levantando o seu biquíni como um troféu,
está dilapidando a sua nudez. E a consequência é que nunca a mulher foi
tão pouco desejada quanto em nosso tempo. Nunca foi tão humilhada pela
indiferença masculina. Eu diria que o amor hoje em dia começa pelo tédio.
A origem desse tédio está na banalização da mulher.
(DIÁLOGOS..., 19
mar. 1966, p. 96-98).
Em 1969, em entrevista à revista
Veja,
Nelson condenou igualmente o uso do biquíni
pelas mulheres, mas agora se referindo também à sua utilização nos festejos
carnavalescos:
O carnaval está morto pra burro. E o que mata o carnaval é o impudor.
Antigamente, quando havia pudor, o carnaval era a festa mais erótica do
mundo. Hoje, o pudor é um anacronismo intolerável. E, então, o carnaval
está morto! [...] No tempo em que a nudez tinha mistérios, tinha suspense,
era um dos mais altos bens da mulher. [...] O biquíni acabou com esse
encanto [...]. Quer dizer, a nudez do biquíni tem a maior solidão da Terra: a
mulher mais invisível do mundo é a mulher de biquíni. (ONDE..., 24 set.
1969, p. 64-65).
Nelson Rodrigues, que teve várias de suas peças rotuladas como imorais e
obscenas, parecia não compreender a redefinição da moral e a liberação das mulheres e
dos costumes. Em ambas as entrevistas
,
o dramaturgo vincula a nudez feminina à
existência do desejo masculino, de forma a tornar ilegítima a nudez como pura manifestação
da sexualidade da mulher, ou seja, sem estar necessariamente relacionada a um desejo
prévio.
As Figuras 4 e 5, captadas no carnaval realizado no Teatro Municipal em 1972,
demonstram versões mais elaboradas de fantasias de inspiração indígena, embora também
tivessem como base o polêmico biquíni. É importante ressaltar que bailes como os do
Municipal eram voltados para as camadas mais elevadas da sociedade e contavam, na
maior parte das vezes, com um sistema de segurança mais rigoroso, o que permitia a
manifestação de comportamentos mais ousados por parte dos foliões, que encontravam
nesses locais ambientes mais seguros.
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