Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 139

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papel feminino, ainda era esperado que a mulher se casasse, tivesse filhos e pudesse se
dedicar integralmente à família. Embora também sua participação no mercado de trabalho
estivesse em ascensão, o papel de mãe, esposa e dona de casa continuava prioritário.
A chegada da pílula anticoncepcional ao Brasil nos primeiros anos da década de
1960 contribuiu para a dissociação entre sexualidade e procriação, até então aceitos
somente no âmbito da instituição matrimonial. A chamada “revolução sexual”, sentida mais
intensamente no Brasil na década de 1970, promoveu uma flexibilização dos costumes,
desse modo, comportamentos anteriormente condenados tornaram-se recorrentes. Casais
não casados eram cada vez mais aceitos, já podendo circular publicamente, carícias
generalizavam-se, beijos mais intensos passavam a ser sinônimo de paixão, a separação,
antes motivo de crítica social, tornava-se solução para um casamento infeliz, e as mulheres
começavam a poder desobedecer às normas sociais, parentais e familiares (PRIORE, 2012,
p. 301-302).
As revistas retratavam em suas páginas muitas das conquistas femininas e, assim,
contribuíam para a construção de novas representações quanto aos papéis desempenhados
pelas mulheres. A respeito das mudanças vivenciadas pelas mulheres no período, Joana
Maria Pedro considera que talvez a maior conquista feminina tenha sido o reconhecimento
de outras formas de ser mulher, para além das funções ditas “naturais” de esposa, mãe e
dona de casa (PEDRO, 2012, p. 256). No entanto, muitas representações que prevaleceram
em épocas anteriores, e pareciam superadas, insistiam em aparecer nas revistas nas
décadas de 1960 e 1970. De acordo com Mary Del Priore, as revistas femininas
continuaram a investir na figura da mãe e da dona de casa, embora enfrentassem o
desmoronamento da figura da “rainha do lar”, tão forte nas décadas anteriores (PRIORE,
2012, p. 308). Apesar do reconhecimento de outras maneiras de ser mulher, os papéis
tradicionais relacionados ao feminino ainda continuavam sendo apregoados no período.
O carnaval – considerado um tipo de festejo naturalmente libertador das convenções
sociais – cumpria um papel primordial na transgressão de hábitos e costumes tradicionais e
na possibilidade de assunção pelas mulheres de sua sensualidade. Os festejos
carnavalescos, por terem tal conotação, contribuíram igualmente para afirmação dos novos
valores morais em construção na época. É importante ressaltar, contudo, que mesmo diante
das conquistas alcançadas pelas mulheres no período abordado, suspeições quanto ao
desnudamento do corpo feminino continuaram persistindo. O Brasil viveu, em grande parte
do período selecionado, sob uma ditadura militar que colocava obstáculos à liberdade de
expressão e à manifestação de comportamentos que pudessem significar uma afronta aos
padrões morais e sexuais estabelecidos. O biquíni, por exemplo, cada vez mais usado nos
festejos, tornou-se alvo de proibições da polícia nos anos de 1962, 1965, 1973 e 1975
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