Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 132

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[...] Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de
Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais
duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão
para ela até perfazê-la de todo. (ASSIS, 2013, p. 429).
Nessa última passagem, Machado parece prever que a questão da universalidade e
da cor local na literatura brasileira ainda levaria muito tempo para ser assimilada, já que ela
passou pelo século XIX, no século XX supostamente encontrou o que Mário de Andrade
chamaria de “estabilização de uma consciência criadora nacional” e, mesmo no século XXI,
ainda não sabemos o limite entre o que é “nosso” e o que veio de “fora”, talvez porque isso
envolva questões sócio-históricas profundas, algumas delas abordadas por Antonio Cândido
em seu trabalho “Literatura e subdesenvolvimento” (1989).
Junto com os exemplos que se repetem, a preocupação com a crítica reaparece em
“Instinto de nacionalidade”, mas agora em outra perspectiva:
Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal
formada ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos
apaixonada nessas questões de poesia e literatura. Há nela um instinto que
leva a aplaudir principalmente as obras que trazem os toques nacionais. A
juventude literária, sobretudo, faz deste ponto uma questão de legítimo
amor próprio [...]. (ASSIS, 2013, p. 429-430).
À questão da crítica (ou da não existência de uma), que ainda será retomada no
texto, junta-se a desaprovação de Machado em relação à juventude literária que, para o
auto, “nem toda ela terá meditado os poemas de
Uraguai
e
Caramuru
com aquela atenção
que tais obras estão pedindo; mas os nomes de Basílio da Gama e Durão são citados e
amados, como precursores da poesia brasileira. [...]” (ASSIS, 2013, p. 430).
Ao mesmo tempo que critica a juventude literária e nota os pontos fortes da geração
de autores que cita, Machado também pontua o erro desses autores, ao mesmo tempo que
pensa a antiga e atual situação da literatura brasileira:
[...] As mesmas obras de Basílio da Gama e Durão quiseram antes ostentar
certa cor local do que tornar independente a literatura brasileira, literatura
que não existia ainda, que mal poderá ir alvorecendo agora. (ASSIS, 2013,
p. 430).
Sabiamente, Machado demonstra-se preocupado em entender todas as gerações
que o circundam, já que, “[...] nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos;
com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum” (ASSIS, 2013, p. 441).
A essa passagem, podemos juntar outra, que mostra o tom bilateral que o texto
assume:
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