Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 138

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AS FANTASIAS INDÍGENAS E A SENSUALIDADE FEMININA NOS CARNAVAIS
DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970
Ellen Karin Dainese MAZIERO
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Considerando que as imagens são fontes de representações sociais e culturais, este
artigo pretende analisar algumas fotografias veiculadas na revista
Manchete,
nas décadas
de 1960 e 1970, a respeito da participação das mulheres nos festejos carnavalescos. As
fantasias usadas pelas folionas neste período permitiam um maior desnudamento dos
corpos, resultado da transformação dos trajes, da revolução sexual e do próprio papel da
mulher na sociedade. Vestimentas pouco comuns em décadas anteriores, como as de
indígenas, que revelavam partes do corpo normalmente encobertas no cotidiano, passaram
a ser mais adotadas pelas folionas durante a realização dos folguedos. Por meio da análise
das fotografias, será possível verificar a forma como as mulheres utilizaram o ambiente dos
festejos para manifestar condutas mais jocosas e como se apropriaram de determinadas
temáticas, como a indígena, para celebrar os seus corpos.
As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por transformações econômicas,
políticas e sociais, que provocaram mudanças no papel da mulher e no próprio modo de
fazer o carnaval. A intensificação dos movimentos de emancipação feminina e a revolução
sexual propiciaram o questionamento dos valores morais vigentes e a expansão das
possibilidades de realização da mulher, para além das funções idealizadas de esposa, mãe
e dona de casa. A maior inserção da mulher em diversos espaços públicos, os movimentos
sociais e as lutas empreendidas pelos movimentos feministas, que reivindicavam o direito da
mulher ao prazer, ao controle do próprio corpo e à sexualidade, contribuíram para que as
mulheres conquistassem e construíssem novos valores morais e sociais. Assim, algumas
mudanças significativas ocorreram, como a desvinculação entre sexualidade e maternidade,
a menor importância atribuída à virgindade como valor moral a ser preservado, a maior
aceitação do trabalho fora de casa e o desejo de autonomia financeira pela mulher.
No entanto, até meados da década de 1960, as normas sociais e os padrões
estabelecidos nas décadas anteriores continuavam ditando as regras de comportamento, de
forma que as mulheres continuavam sob a mira da aprovação social e a sua
profissionalização ainda era vista com restrições, tal qual a manifestação de sua
sexualidade. Apesar da ampliação de visões que sinalizavam para mudanças quanto ao
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Doutoranda - Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp – Univ. Estadual
Paulista, Campus de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP: 19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. E
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