Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 148

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suscita comunicação, ou seja, quando o convoca à participação pela projeção imagética e
reflexão crítica.
A obra
Lendas e mitos dos índios brasileiros
(1999) congrega 24 lendas e histórias
indígenas sobre a criação do mundo, seus deuses e o surgimento entre os homens das
dádivas destes, como a mandioca, o guaraná, o fogo, o fuso, entre outras. Justifica-se,
então, o título do livro. Dessas histórias, 16 foram recolhidas e interpretadas pelo autor, e
oito adaptadas do livro
Xingu
: os índios, seus mitos, de Cláudio Villas Bôas e Orlando Villas
Bôas (1990).
Desse modo, as narrativas que compõem a obra trazem um universo marcado pela
magia, pela sabedoria e pelo mistério da existência humana, bem como pela constituição do
mundo. O livro, dividido em duas partes, apresenta, na primeira, lendas e mitos pesquisados
e interpretados por Andrade e Silva, com a indicação das respectivas tribos indígenas de
origem: “Mundo novo: o paraíso terrestre” (Kaiapó); “Iguaçu: as cataratas que surgiram do
amor” (Kaiangang); “Mandioca: o pão indígena” (Tupi); “Guaraná” (Maués); “Mumuru: a
estrela dos lagos” (Munduruku); “Yara: a rainha das águas” (Tupi); “Thaina Khan: a estrela
da amanhã” (Karajá); “Cervo Berá: o troféu do amor” (Tupi); “Irapuru: o canto que encanta”
(Maués); “Potyra: as lágrimas eternas” (Tupi); “Tucumã: o surgimento da noite” (Tupi);
“Coacyaba: o primeiro beija-flor” (Maués). “Poronominaré: o dono da terra” (Baré); “Xingu: a
formação das tribos” (Kamaiurá); “Begorotire: o homem-chuva” (Kaiapó); “O menino e a
onça: como os caiapós conquistaram o fogo” (Kaiapó).
Na segunda parte, apresentam-se oito narrativas que também indicam as tribos
indígenas de origem: “Mavutsinim: o primeiro homem” (Kamaiurá); “Mavutsinim: o primeiro
kuarup, a festa dos mortos” (Kamaiurá); “Kuát e Iaê: a conquista do dia” (Kamaiurá);
“Igaranhã: a canoa encantada” (Kamaiurá); “Arutsâm; o sapo astucioso” (Kamaiurá); “Sinaá:
inundação e fim do mundo” (Kamaiurá); “Iamulumulu” (Kamaiurá); “Iamauricumás: as
mulheres sem o seio direito” (Kamaiurá).
Suas histórias apresentam relatos sensíveis e comoventes que explicam o
surgimento do mundo e também questionam a ação nefasta do homem branco sobre a vida
selvagem. Neste viés crítico, podemos ler o texto “Mundo novo: o paraíso terrestre”, o qual
trata da nação indígena dos Kaiapós, habitantes de uma região “[...] onde não havia o Sol
nem a Lua, tampouco rios ou florestas, ou mesmo o céu azul.” (ANDRADE E SILVA, 1999,
p. 12). Um dia, um dos índios, ao perseguir um tatu durante uma caçada, adentra um
imenso buraco cavado pelo animal na terra. Por meio dessa entrada, ele descobre o paraíso
e relata as maravilhas ao seu povo. O pajé, então, permite que todos sigam o tatu e desçam
pela cova ao paraíso terrestre, pois “Lá seria o magnífico Mundo Novo, onde todos viveriam
felizes” (ANDRADE E SILVA, 1999, p.12). O texto mantém uma relação intertextual com a
mitologia, como também dialoga com contos ou lendas populares. Suas ilustrações
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