Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 152

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sobretudo o valor mítico que emana das criações indígenas e da busca de identidade
nacional.
Dessa maneira, Cândido (1997, p. 20) assinala a importância significativa da
utilização do tema indígena em meados do século XIX, visto que: “Nós aqui temos os
nossos mitos: gênios dos rios, lagos, matas, montes e vales”
3
. E conclui numa tirada que
revela o sentido de afirmação particularista do indianismo. Prossegue, ainda, que se tem
“[...] em sobejo, só nos faltam os pincéis com que traçar os formidáveis quadros d’Ossian,
Faust e Ivanhoé”.
Os estudos voltados à produção literária para a infância e a juventude configuram-se
como que paralelos a essas preocupações. Sendo assim, tanto na produção literária dirigida
aos jovens leitores quanto na constituição da produção romântica, notamos que há uma
valorização da cultura popular e do folclore em suas inúmeras formas de manifestações.
Além disso, vale sublinharmos, de acordo com Regina Zilberman e Marisa Lajolo (2003),
que a gênese da literatura infantil está intimamente ligada aos contos e aos mitos, visto que
Charles Perrault, em 1697, lançou
Contos da mamãe gansa
, que tratava de histórias
advindas da cultura popular. Essas histórias milenares atravessaram os séculos e
permanecem no imaginário infantil, sendo recontadas conforme a organização social de
cada comunidade, estado ou país.
Zilberman e Lajolo (2003), em
Literatura infantil brasileira: histórias & histórias
, ao
traçarem o panorama geral da vertente em pauta, assinalam os aspectos temáticos e
históricos desde o início do século XIX até a produção contemporânea. Na década de 1940,
as estudiosas observam que o índio desempenhou um papel auxiliar do aventureiro branco,
mostrando-se cordial e colaborador, ajudando-o a alcançar os seus objetivos. Essa figura
boa pode ser encontrada na personagem Pixuíra, no Roteiro dos Martírios, ou Saporé, no
texto de Baltazar de Godói Moreira, intitulado
Curumim sem nome
. Luiz Gonzaga de
Camargo Fleury também apresenta personagem indígena aliada aos portugueses nas obras
O curumim do Araguaia
e
Araci e Moacir
.
Para Zilberman e Lajolo (2003, p. 107), na representação do índio “[...] se completa a
imagem da conquista, cuja consolidação chocava-se com uma política que deveria se
comprometer com a preservação das populações indígenas.” Daí a necessidade de
contornar a situação sem provocar um ferimento nos sentimentos humanitários. Sendo
assim, “Unicamente, pela desumanização do índio, que, desprovido de traços que possam
identificar seu lado humano, dissolve-se na natureza. Dessa maneira, pode ser exterminado”
(ZILBERMAN; LAJOLO, 2003, p. 107). Então, privilegiava-se o seu aspecto selvagem, por
isso mostrava-se somente um lado agressivo em sua representação literária. Todavia,
desconsideravam-se os aspectos culturais, os rituais e a explicação cabível das ações
3
“Citação de Carlos Miller, “Um fragmento do romance de A...”, BF, I, n. 21, p.7.” (CÂNDIDO, 1997, p. 20).
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