Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 150

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valoriza a estética das narrações indígenas e cuida do simbolismo de cada conto, sem
perder de vista os aspectos artísticos, culturais e históricos.
O prefácio, escrito por Orlando Villas Bôas, enaltece o trabalho artístico de
Waldemar de Andrade e Silva, e desperta a curiosidade do leitor para as histórias dispostas
no livro, produzindo atmosfera adequada à leitura:
Bem no centro do nosso país, na região cortada pelos formadores do
caudaloso Xingu, lá onde as águas correm tranquilas nos remansos, se
apressam nos rebojos, se batem nos pedrais das corredeiras, ou então
volteiam nas praias brancas do rio, vivem duas dezenas de tribos indígenas.
(VILLAS BÔAS, 1999, p. 11).
Villas Bôas, como conhecedor do Xingu em todos os seus âmbitos, escreve sobre a
peculiaridade do Alto Xingu,
pátria dos índios
, considerada uma grande “ilha” que
permanece isolada e “insensível à passagem dos séculos”. Ele explica que o tempo para o
índio é diferente do tempo em que vivemos, pois não “[...] existem meses, anos, dias,
semanas. Existe, isto sim, o fluir silencioso do tempo, e ele, integrado ao meio, vivendo o
presente, deixa-se levar à deriva qual uma folha na correnteza.” (VILLAS BÔAS, 1999,
p. 11). Nesse movimento, Waldemar capta as cores, interpreta e registra o universo de
Xingu. Para tanto, apropria-se de cores e letras. E, nós, leitores, a partir dos textos
introdutórios, somos levados a adentrar este mundo marcado pelo encanto e pela magia.
Um mapa, ilustrado pelo autor, encerra as histórias, indicando, por meio de uma
legenda com nomes e animais-símbolo, onde se localizam no Brasil cada tribo indígena.
Após esse mapa, aparece um glossário com termos indígenas, empregados nas histórias, e
técnicos, usados nos paratextos. Fecha a obra uma extensa bibliografia que revela as
pesquisas do autor, bem como convoca o leitor a outras buscas sobre o assunto.
Justifica-se a análise desta obra, pois possui excelente projeto gráfico-editorial,
explora com consistência as possibilidades estruturais das histórias lendárias e míticas, bem
como as amplia com a inclusão de ilustrações dotadas de trabalho estético. Assim, pela
dialogia entre texto verbal e não-verbal, a obra propicia para o leitor uma experiência
significativa de leitura autônoma ou mediada pelo professor. Além disso, ela se apresenta,
em sua abordagem, como um meio de reconhecimento do rico imaginário indígena que
compõe nossa cultura.
A identidade nacional e a memória popular: representações literárias do índio
O livro aborda tema recorrente na literatura, qual seja a questão da identidade
nacional e da memória popular que guarda traços da constituição do nosso país. Justifica-se
a classificação como recorrente para a temática, se lembrarmos as primeiras cartas de
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